O Cântaro Magro é um pico onde tradicionalmente se pratica escalada em rocha em Portugal. É por muitos considerado o local mais emblemático para essa actividade no nosso país. O Picu Urrielo é um pico onde tradicionalmente se pratica escalada em rocha em Espanha. É por muitos considerado o local mais emblemático para essa prática no país vizinho.
O Cântaro Magro é constituído por granito de boa qualidade, duro, pouco friável e relativamente inerte do ponto de vista químico. O Picu Urrielo é um pico de rocha calcárea, mais mole, com diversos componentes mais solúveis, que se quebra com muito maior facilidade, que reage com qualquer ácido.
O Cântaro Magro é visitado por uma ou duas cordadas por fim de semana, especialmente no Verão. No Picu Urrielo, no Verão, encontram-se permanentemente várias cordadas, até mais do que uma em cada via, isto a qualquer hora do dia e da noite (porque a escalada de muitas das suas vias demora mais do que vinte e quatro horas para uma cordada típica). Mesmo no Inverno, é vulgar encontrar vários escaladores em actividade simultaneamente.
O Cântaro Magro encontra-se no interior de uma área protegida com a classificação intermédia de parque natural. O Picu Urrielo encontra-se no interior de uma área protegida com um estatuto mais exigente (parque nacional).
Sem que tal esteja explícito no regulamento, os serviços do Parque Natural da Serra da Estrela (onde se situa o primeiro dos picos que estou a comparar) não autorizam a escalada no Cântaro Magro. A escalada no Picu Uriello é permitida pelos serviços do Parque Nacional dos Picos da Europa e nem sequer carece de autorizações especiais.
Significa isto que os valores naturais estão melhor protegidos no Parque Natural da Serra da Estrela do que no Parque Nacional dos Picos da Europa? Nem em sonhos!
7 comentários:
Sem desprimor para tão boa gente que já teve o prazer e o privilégio de subir ou trepar ao Cântaro magro, a diferença com o Picu Urrielo é que está em Espanha e talvez aí os espanhóis saibam muito bem que tipo de gente o visita. Aqui o governo e quem faz as leis também deve saber que tipo de gente frequenta o Cântaro Magro. Há coisas que nos doem. Esta é uma delas: admitir que não queremos ou não sabemos ser bons para nós mesmos, que só estamos bem a tramar-nos, a desconfiar de todos. Entretanto, à beira mar, autarquias e outras entidades permitem a implantação de bares em praias pequenas, com direito a escavações e implantação de sapatas em betão. Tudo isto numa altura em que os media nos mostram como o mar derruba falésias, derrete arribas e destrói habitações clandestinas que já terão rendido bom dinheiro como habitações de férias a turistas.
O escalador, o montanhista, o caminheiro, o bttista, aqui são sempre considerados turistas de 2ª.
Não ficam em hoteis, não comem todos os dias em restaurantes, dormem em tendas e até trazem comida de casa.
Será por isso que não temos força??
Acho que temos muita força.Aqui em Portugal é mais uma questão de cultura.
E essa está bem atrasada relativamente a muitos Países que vivem para a Montanha , ensinam-na nas escolas e valorizam-na em todos os aspectos.
como todos sabemos é mais fácil mobilizar 500 pessoas para se meterem num passeio TT do que 500 para plantar castanheiros na Serra.É uma questão de cultura.Abraço
Tiaguss,
é preciso cuidado com generalizações. Há BTTistas com bicicletas milionárias, há montanhistas que andam de BMW, ele há de tudo. (Mas é verdade que há mais de uns que dos outros. ;)
Mas concordo contigo, num certo sentido. O PNSE (e o mesmo para as restantes áreas protegidas) foi criado para defender a paisagem, o ambiente e a cultura tradicional da serra. Mas, na verdade, colectivamente não estamos verdadeiramente interessados em nada disso. Daí que não consigamos manter uma acção consequente de defesa do ambiente. O máximo que conseguimos é fingir isso, com a criação do ICNB e das áeas protegidas. Os técnicos destas instituições, que assim são pagos para não fazerem o que deviam porque ninguém quer que o façam, acabam, só para mostrar serviço, por fazerem o que não devem, mas que só meia dúzia de gatos pingados (que somos nós, os montanhistas) sentem na pele. Entretanto, essa obrigação da protecção da natureza, onde fica? Onde não der chatices: nas pias intenções, nos preâmbulos das leis e, sobretudo, no estrangeiro.
ZePataleno, a gente nem sabe que foça tem enquanto não a tentarmos usar. Temos que tentar divulgar a nossa opinião e alterar este estado de coisas que, muito claramente, nos parece absurdo.
Abraços!
uau...
caros amigos,
não há dúvida que a mentalidade conservacionista portuguesa está atrás da mentalidade dos espanhóis... mas estamos a ir pelo bom caminho a passos largos. O ponto central da questão é que... não há dinheiro para conservar, fiscalizar orientar, PROIBE-SE! Se não frequentar, não estraga ou, pior, se tiver dinheiro, até pode estragar, desde que pague! (vejam o caso das taxas ainda a dar que falar - ver em http://www.celtasdominho.org/)
Conheço bem estas duas áreas protegidas e a área espanhola, mais acessível no que diz respeito legislação, não fica atrás da área do nosso Portugal. É necessário uma mudança urgente de mentalidades a dois níveis: popular e politico. Cumprimentos, Jorge Sousa www.bota-rota.blogspot.com
Ola!
Eu vim de mais um fds grande na Serra da Estrela. Desde o encontro de montanha da ASE que tenho ido lá várias vezes (incluindo no Limpar Portugal). No último domingo (dia em que fomos para zonas mais "públicas" da serra) até a alma me doeu. Eram só pessoas a fazer "pic-nics" à beira da estrada .. houve uns que até tiraram o carro da estrada para fazerem o pic-nic em cima dele. Foi triste .. e foi ainda mais triste quando deparámos com todo o lixo depois da neve derretida. Garrafas (cartão, plástico e vidro).. sacos de plástico .. bocados de trenós por todo o lado .. pacotes de sumos .. de pomadas .. batons .. enfim .. foi um desfile triste.
Pegando nas palavras do Jorge Sousa .. se não há dinheiro para conservar PROIBE-SE .. então que se proibam carros na serra da estrela! Não se proibam a pessoas que gostam realmente da natureza!
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