sexta-feira, janeiro 22, 2010

(Falta de) Qualidade

Vamos já na recta final de Janeiro, quinze dias depois de um enorme nevão que cobriu de branco toda a região centro, como está a neve na serra da Estrela? O site da estância de esqui informa-nos de que estão três pistas abertas (Covão, Cântaro e Lagoa), com um comprimento total de 788 m e um desnível acumulado de 107 m. O tipo de neve é "Dura/Húmida" e a profundidade não é indicada. Este tem sido o panorama geral nos últimos dias (hoje até estamos melhor, que foi aberta a pista Lagoa, a maior das três).

Neve Dura/Húmida é aquela que frequentemente aqui refiro como sendo vulgar na Estrela (logo, também nas pistas de esqui): é húmida porque derrete e dura porque congela(*). Não é grande coisa para esquiar. A extensão esquiável nas presentes condições na estância da Turistrela é da ordem de grandeza do comprimento de uma pista média nos Pirinéus. É menos do que o comprimento total da maior (e mais frequentada) pista da estância de La Covatilla, aqui perto. O desnível, esse, é ridículo.

A estância da Estrela está equipada com canhões de neve, mas como se vê nem assim se consegue manter a maioria das pistas abertas. De que poderá servir ampliar a estância pela encosta abaixo, se nem a que temos conseguimos manter a funcionar razoavelmente?

Esta situação demonstra mais uma vez algo que tenho aqui repetido frequentemente: a serra da Estrela não é ideal para a prática de desportos de neve. Porque não neva com a frequência e intensidade necessárias, porque a neve, mesmo no pino do Inverno e mesmo nas cotas mais altas, passa por ciclos diários de fusão e congelamento que a tornam "Dura/Húmida", e também porque, mesmo no pino do Inverno e nas cotas mais altas, frequentemente chove ou formam-se bancos de nevoeiro, ocorrências que "comem" neve e degradam a sua qualidade com rapidez.

A prática de desportos de neve na serra da Estrela é assim muito condicionada: ou não há neve, ou está mau tempo, ou a neve está dura... E quando se conseguem reunir condições ideais, é a estância que é pequena e pouco entusiasmante. Ou seja, é possível esquiar na Estrela, mas só muito raramente se consegue praticar um esqui realmente satisfatório, só raramente se pratica um esqui de "qualidade".

Mas será possível desenvolver-se um turismo de qualidade na serra da Estrela, baseando-o em práticas que, na serra, só muito raramente têm qualidade?

(*) Ao contrário do que acontece nos Alpes e (menos) nos Pirinéus, onde está frio o suficiente para não se verificar fusão apreciável da neve durante longos períodos. Ela mantém-se assim na forma de um pó relativamente seco, qualidade considerada ideal para o esqui.

30 comentários:

ⓡⓞⓣⓘⓥ disse...

Visitem, é de qualidade :)

http://limparportugal.ning.com/group/manteigasporqueaestrelatemcorao

Anónimo disse...

Boa Noite,

Este post tem dados correctos e dados tendenciosos.

Como correcto, encontra-se:
a) a qualidade da neve
b) a pequenez da estância.

Como tendencioso, encontra-se:
a) o facto de se ignorar que os Invernos passarão a ser mais frios, sendo que a Estância pode vir a ter maior área com de neve (recomendo uma leitura atenta ao PETUR);
b) A comparação com Espanha. Lá as chuvas da semana passada fecharam Manzaneda e condicionaram fortemente Bejar, sendo que numa consulta às webcam durante estasemana, não notei nenhuma diferença no nevoeiro de lá face ao de cá (será que a galinha da vizinha é sempre melhor que a nossa?).

O rigor nunca fez mal, pelo que deixo aqui o meu contributo.

Mário Amoreira disse...

Há vinte anos atrás, havia uma estância de ski na Nave de Santo António, onde cheguei a fazer ski diversas vezes. O que é que o faz acreditar que «os Invernos passarão a ser mais frios»?

Cumprimentos

ljma disse...

Olá, Mário! Bem vindo sejas a este cantinho (que anda assim a modos que meio abandonado, mas enfim)!


Anónimo, tem razão, o rigor nunca fez mal a ninguém. Mas não enfio essa carapuça, não desta vez, pelo menos.
Diga-me:
a) Tem a certeza de que os Invernos passarão a ser mais frios? Pode prová-lo de forma convincente? [Imagino que saiba que o PETUR não é um estudo sobre climatologia, pelo que não é uma fonte muito fiável sobre esse assunto (aliás, duvido que defendam ou critiquem alguma tese sobre climatologia. Seria muito arriscado para as suas carreiras de professores universitários da área de... Gestão!)].
Mas, mesmo que haja indicações de que os Invernos se tornarão mais frios (coisa que, parece-me, está em completo desacordo com o que se hoje se aceita na ciência climática, e que está também em desacordo com a nossa [falível, claro] percepção da evolução do clima nas últimas décadas, como referiu o Mário, mas adiante), isso será já para o ano? Ou daqui a cem? Justifica-se planear o desenvolvimento do turismo tendo como pressuposto essas hipóteses? Não é melhor usar o que temos de bom agora (paisagem, ambiente) em vez de o estragarmos a pensar no que eventualmente, num futuro incerto será, quando muito, suficiente?

b) Comparei a neve da serra com a dos Pirinéus e dos Alpes. Porque esquio com alguma regularidade nos Pirinéus posso dizer que sim: a galinha dos Pirinéus é mesmo melhor que a nossa. Não comparei a nossa estância com Manzaneda ou La Covatilla. Apenas usei a maior das pistas desta última para melhor ilustrar a pequenez da nossa estância nas condições actuais. Considera pouco rigoroso dizer que a maior das pistas de La Covatilla (como 2200m, ver aqui) é maior que a soma dos comprimentos das três pistas actualmente abertas na Torre? Mas quanto a La Covatilla concordo consigo: em termos estritamente físicos, não é uma galinha muito melhor que a nossa. (Mas mesmo assim note que eles têm, nestes mesmos dias, 15,33 km de pistas em funcionamento, caramba!)

Gostaria ainda de perguntar-lhe se acha que o que considera ser a falta de rigor deste post põe em causa o seu ponto central, que é o facto de o esqui na serra da estrela ser de fraca qualidade?

Cumprimentos,
José Amoreira

Anónimo disse...

Boa Noite,

Concordo que a Qualidade da Estância da Serra da Estrela é baixa, fruto da nossa proximidade ao Atlântico (logo, ao famoso anticiclone dos Açores).

Não concordo com a análise efectuada com ligeireza sobre o clima. Alguém, infelizmente, chamou-lhe “aquecimento global”, quando na prática trata-se de uma maior amplitude térmica.

Sobre o PETUR, já percebi que apenas leu os capítulos que lhe davam jeito

Anónimo disse...

Sobre as estâncias,vamos comparar o comparável.

Estarmos a falar dos Pirineus vs Serra da Estrela é a mesma coisa que estarmos a comparar MIT vs UBI. Uma é muito boa, a outra é ...

ljma disse...

Anónimo das 23:55, compreenderá que considere ligeiramente insultuoso a sua insinuação de que sou desonesto (há outro sentido para a frase com que acaba a sua anterior mensagem?). Digo aquilo em que acredito, não tento "passar" coisas que sei serem mentiras ou meias verdades, não leio apenas o que "me dá jeito".

"Alguém chamou-lhe aquecimento global"? Até parece que se está a referir a meia dúzia de "visionários" semi-loucos e desfasados da realidade que inventaram ontem à tarde uma teoria maluca!

Olhe, eu não efectuei nenhuma análise sobre o clima, porque não tenho que a fazer. Eu até podia acreditar que tudo vai continuar na mesma, fazer como o santo que diria a este propósito: "alterações climáticas (de um sentido ou de outro)? Ver para crer". Mas o anónimo disse que as coisas vão mesmo mudar, e que vão ficar mais frias! Confirma que tem essa opinião? Como ela vai contra aquilo que a generalidade das pessoas afirma (superficialmente, admito) que se tem notado ao longo dos anos, entendi eu (e o Mário) que o anónimo devia explicar melhor a sua posição. Não o fez, mas ainda está a tempo. Convença-nos!

O PETUR que eu conheço é o "Plano Estratégico de TURismo na serra da Estrela", redigido por uma equipa de docentes do Departamento de Gestão da UBI (colegas meus, alguns dos quais conheço pessoalmente) por encomenda dos municípios da região, há uns três ou quatro anos. O documento está há alguns meses linkado aqui no Cântaro Zangado (procure perto do final da lista dos blogues da região). Se calhar não estamos a falar do mesmo quando falamos de PETUR. É deste documento que fala? Se sim, estamos falados, repito que não me parece uma fonte com autoridade sobre o assunto das alterações climáticas. Aproveito para lhe sugerir a análise de um estudo realmente sobre os cenários e impactos das alterações climáticas em Portugal efectuado por uma equipa multidisciplinar que inclui, obviamente, vários climatologistas de várias universidades do país (incluindo a UBI, aproveito para vender a minha sardinha), liderado pelo prof. Filipe Duarte Santos da Universidade de Lisboa: Climate Change in Portugal: Scenarios, Impacts, and Adaptation Measures - SIAM


Anónimo das 00:27, concordo consigo.
Mas com que outras estâncias podemos comparar a nossa?

Por outro lado, falando agora de outra coisa, as condições que uma instituição (ou um país) nos oferece para nos realizarmos e crescermos (e ajudarmos a fazer crescer essa instituição ou país) são apenas uma parte da equação. Há muito que depende de nós. Partindo do princípio de que pertence (como aluno ou docente) à UBI, tem a certeza de que faz tudo o que está ao seu alcance para que a sua aposta na UBI dê os melhores frutos? Eu não tenho a certeza de (eu) o fazer. Enquanto não tiver, abstenho-me dos lamentos habituais: "ha, não me dão as condições que mereço", "ha, se eu estivesse no MIT", etc. Isto não é resignação, é parte de uma atitude que pretende ser construtiva: Não estou no MIT, estou na UBI; o que posso fazer aqui? Como posso ajudar a fazer funcionar isto? Quanto é que posso aprender? As respostas a estas perguntas obrigam muitas vezes a críticas à instituição e a sugestões para melhorias. Algumas serão implementadas, outras não. Paciência, é assim que as coisas são, na UBI e no MIT também.

Cumprimentos cordiais
José Amoreira

Anónimo disse...

Bom Dia,
Confesso que da leitura da sua resposta, parece-me que o tema está a encaminhar-se para o campo emocional, afastando-se da objectividade.
Ninguém o acusou de nada, pois se alguma culpa tem é apenas e tão-somente de o José Amoreira ser um ser humano. Existem sempre dois lados para a mesma história, pelo que a natureza humana tende a aumentar os factos que são favoráveis à nossa versão da história e a diminuir os que são contrários.
Sobre o “Aquecimento Global”, os factos são inequívocos. Procure verificar se as temperaturas máximas não estão a aumentar, bem como as mínimas a diminuir (em valor absoluto). O próprio estudo do PETER refere o facto (importa-se de ler esse capitulo antes de o negar!!!)
Como prova, observe que os próximos 10 dias serão de frio apreciável. Nem o argumento da Nave de Santo serve, pois este ano já lá ouve uma quantidade apreciável de neve.
Sobre MIT vs UBI, já percebi que o tema é-lhe muito querido, pelo que pode imaginar uma comparação entre o Barcelona e o Sporting da Covilhã. Não estamos a falar do mesmo campeonato, pois não?
Quando se compara a Serra com Bejar ou Manzaneda, estamos a falar quase do mesmo campeonato. Quando se compara Pirineus à Serra, não é obviamente o mesmo comentário.

Mas volto a frisar: A qualidade da neve na Serra da Estrela é fraca, e nesse ponto parece que estamos de acordo.

ljma disse...

Bom dia.
Não sei porque é que diz que estou a resvalar para o campo emocional, perdendo a objectividade. Ou será que também não é isso que está a dizer? Parece, como há pouco parecia que me estava a acusar de desonestidade. Não é que me ofenda nada disso, é só que não me agrada discutir ideias usando este tipo de linguagem e de "argumentos".

O PETER a que se refere agora é o PETUR que se tem estado a referir? Se sim, repito que não é (nem pretende ser, atenção) um estudo sobre a evolução do clima na serra da Estrela. Tem mais argumentos a favor da sua tese sobre o arrefecimento futuro dos Invernos na Serra?

Continuando ainda no tema da evolução do clima, saberá decerto que clima e meteorologia não são a mesma coisa. Sobre o clima os factos são, de facto, inequívocos e não traduzem, tanto quanto sei, aquilo que refere. As tendências do clima não se aferem em dez dias, nem num Inverno, nem, sequer, em dez anos. Veja, por exemplo, este post no blog ambio que explica bem o que acontece.

Assim, afirmar que o aquecimento global é uma realidade (pressuposto que não utilizei no meu post, o anónimo é que afirmou que o que está a acontecer é o contrário) não significa que se acredita que deixará de nevar na Nave de Santo António. Significa é que não haverá condições (como já as houve no passado) para esquiar com regularidade na Nave de Santo António. Já lá nevou este ano, sim. Mas será isso argumento para voltar a abrir aí uma mini-estância? Estaria disposto a investir capital seu num tal empreendimento?

Mas, se concordamos que, independentemente do clima e da sua evolução futura, a qualidade da neve na serra é fraca, estamos no essencial de acordo e podemos deixar esta discussão acessória sobre o clima. Estando de acordo neste aspecto, vamos aos campeonatos. O ponto deste post é exactamente esse: não podemos vencer no campeonato da neve, por isso mais valia deixarmo-nos disso, e apostarmos sim, num campeonato diferente, para o qual estamos melhor dotados.

Saudações cordiais
José Amoreira

Anónimo disse...

No que concerne à qualidade da neve na Serra da Estrela, estamos de acordo.

Sobre campeonatos, julgo que não é por existir o Barcelona ou o MIT que o Sporting da Covilhã ou a UBI devam fechar. Aliás, julgo que tanto o Sporting da Covilhã como a UBI têm planos de expansão, como qualquer empresa que se preze….

Anónimo disse...

Minha gente...desculpem mas estão todos equivocados... A qualidade da neve nas pistas é apenas parte da animação...O que seria ir á serra e bater com o nariz na cancela de Piornos, onde se veria uma equipa de reportagem de um canal de televisão a assistir á reabertura de estrada e pistas como no dia 2 deste mês (montes de pessoal viram-me na RTP1...)onde se lutaria por um lugar de estacionamento, onde podemos poupar mais os joelhos que na Vodafone onde para subir demoro 25 minutos e que desço em 1 minuto por entre trenós e gajos montados em sacos de plástico, e o pessoal que esquia de ganga e casaco de cabedal com as suas "madames" de tacão de salto alto enterrados na neve.
Amigos, a ida á serra é como foclore no adro da igreja da "nossa" aldeia, nunca será um Coliseu ou um Pavilhão Atlântico...
Paulo Nogueira

Anónimo disse...

O problema é mesmo esse. Quem não pode ir ao Coliseu, jogar no Barcelona, estudar no MIT ou ir aos Pirineus, tem que se contentar com a oferta de menor qualidade.

A isso chama-se a lei da oferta e da procura.

Sobre a oferta de turismo da natureza, é minha opinião que a procura já é superior à oferta, sendo que na Serra existe sempre um grupo de entusiastas que ainda não se decidiu de o turismo de natureza deve, ou não, ser massificado.



fico com dúvidas de o objectivo deste blog é pr

Mário Amoreira disse...

Segundo o que depreendo da leitura do post inicial, o LJMA não defendeu o fim da estância de ski (pelo menos neste post). Aliás, a questão colocada por ele é:
De que poderá servir ampliar a estância pela encosta abaixo, se nem a que temos conseguimos manter a funcionar razoavelmente? (o bold é meu)

Anónimo disse...

Certo. Concordo que nos desviamos do post inicial do José Amoreira.
É minha opinião que, apesar de alvitrado no estudo PETUR a possível expansão da Estância, o investimento vs proveito será baixo, pelo que deve ser uma ideia que irá morrer à partida.

ljma disse...

Boas noites a todos.
Nem mais, não estou aqui a pretender que se feche a estância. Ainda no Inverno passado lá passei duas manhãs razoavelmente bem passadas. O que me mete impressão e que motiva uma percentagem muito razoável dos posts é esta ideia bastante generalizada que o turismo na serra da Estrela está ligado à neve, só pode estar ligado à neve e sempre estará ligado à neve.

O que pretendi deixar implícito com a pergunta com que terminei o meu post é que acredito que enquanto tivermos o turismo da serra ligado principalmente a algo que, na serra, é de fraca qualidade, continuaremos a ter o turismo que temos e que, ainda na minha opinião, é de muito fraca qualidade. Pior ainda (e nisto creio que o PETUR me apoia), é de fraco proveito para a região.

Mas isso não significa que ache que a estância deva fechar. Mas entendo que não se deve ampliar mais; que deveria definir-se um plano de boas práticas a cumprir pelos gestores da estância que minorasse os impactos ambientais da estância (tanto quanto sei, nem nunca sequer foram avaliados!), tal como os que condicionam a actividade de *todas* as estâncias que conheço nos Pirinéus ou aqui ao lado, em La Covatilla (e algumas nem sequer estão no interior de áreas protegidas). E sobretudo, creio que nos devíamos curar desta cegueira da neve, que considero nos tem trazido mais mal que bem.

Cumprimentos
José Amoreira

ljma disse...

Peço desculpa por deixar aqui comentários às pinguinhas (ou pingonas, o sufixo é mais apropriado), mas um anónimo disse à pouco que "tanto o Sporting da Covilhã como a UBI têm planos de expansão, como qualquer empresa que se preze", pretendendo justificar que também a nossa pequena estância, deve ter espaço para crescer, que é natural e bom que assim seja.

A comparação é errada. Os gestores do clube de futebol podem sonhar que melhores dias virão, que conseguirão contratar melhores jogadores, ou que terão melhor sorte nos jogos. O capital de uma equipa de futebol são os seus jogadores e pode considerar-se a possibilidade de melhorias na equipa. O capital da UBI são os seus docentes, alunos e funcionários. Pode imaginar-se que com mais esforço e organização mais e melhores frutos se poderão colher.

Mas a nossa estância está limitada por *factores físicos*. Não há esforço por parte dos gestores da estância que faça a neve cair mais intensamente, ou que mantenha as temperaturas baixas o suficiente para que a neve produzida por canhões permaneça esquiável. Um hoteleiro num fiord da escandinávia pode achar que detém o melhor spot da Finlândia para uma estância balnear de tipo mediterrânico, pode até ganhar subsídios europeus para o construir, mas nunca será grande coisa nem conseguirá atrair os clientes alemães e ingleses que enchem no Verão as costas do Adriático e do Mediterrâneo. Ou melhor: até conseguirá atrair muitos, mas só se apostar naquilo que diferencia o litoral finlandês, não imitando num pastiche barato e rasca aquilo que o litoral Finlandês não é nem nunca será.

E nós? Nós pelos vistos continuaremos a preferir o pastiche rasca e barato, e a sonhar que com esforço, organização, optimismo voluntarista e apoios estatais a nossa serra se cobrirá da alvura da neve pó e que poderemos manter a funcionar uma estância com 50 km de pistas (já li números destes em declarações de gestores da Turistrela) capaz de atrair até turistas alemães (esta é recente, já foi referida este ano) ou que poderemos concorrer com os Alpes e os Pirinéus (como refere uma página do website da Câmara Municipal da Covilhã).

Francamente, agora a sério: alguém acredita mesmo nisto?

Anónimo disse...

Uma curiosidade sobre o suposto aquecimento global:

http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=216&id=18821&idSeccao=2311&Action=noticia

parece que além da nave de Santo António, pode ser que abra uma estância na A23 :)

Mário Amoreira disse...

Pois, mas...
Numa passagem num livro sobre o foral da Covilhã (comemoração dos 500 anos de cidade), publicado há uns anos, descrevia-se, numa passagem, que os nobres, no Inverno, mandavam alimentos aos monges de um convento que havia, se a memória não me falha, perto do local onde agora há uma santa (na entrada do lado do Refúgio). Aí descreviam-se nevões onde a neve chegava à cintura das pessoas. Onde é que isso acontece, hoje em dia?

Anónimo disse...

Pois... mas não faço intenção de abandonar o aquecimento na minha casa, pois não estou convencido que a neve/frio seja coisa do passado. Já vários “repararam” nas maiores amplitudes térmicas, outros ainda permanecem negação, mas pode ser que voltemos a falar do tema daqui a uns anos.

Como curiosidade, no mesmo Jornal “A Reconquista”, não é por acaso que referem que o nevão em Castelo Branco foi o maior das últimas décadas (e esta não é uma frase feita utilizada na cidade, pois não existem lá estâncias de esqui).

ljma disse...

Claro, Anónimo, eu também não estou nada convencido que a neve/frio seja coisa do passado.

Mas olhe, eu nada disse sobre a futura evolução do clima. Apenas disse que a serra não é grande coisa para esquiar. Alguém acredita que num futuro mais ou menos distante será melhor? Pelos vistos, sim. Não pretendo agora discutir essas opiniões, nem as dos que defendem (com mais apoio na comunidade científica, diga-se de passagem) a tese do aquecimento global.

O que me interessa aqui é outra coisa, é o seguinte: dadas as condições que a serra tem demonstrado nas últimas décadas e mesmo aceitando esse suposto arrefecimento futuro, mais ou menos distante, alguém acha razoável que se mantenha o desenvolvimento do turismo na serra da Estrela baseado tão principalmente na neve? Eu não.

Note-se, já agora, que nem nos Alpes ou nos Pirinéus, onde a neve cai com uma fartura que nós aqui só podemos imaginar e onde o esqui se pratica com qualidade mais ou menos assegurada, está o turismo tão exclusivamente ligado à neve como na Estrela. Experimente passar uns dias nos Pirinéus ou nos Alpes no Verão, para perceber do que estou a falar.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Falam, falam, e …

1) Este fim-de-semana a Estância esteve quase cheia - passei lá uns momentos muito agradáveis em família - e não me preocupei nada com a qualidade da neve, pois esta estava à altura das minhas humildes capacidades;

2) Notei que vários grupos efectuaram caminhadas pela neve - reparei que pelo menos dois grupos que estiveram mais de 3 horas a dar uma volta - ou seja, a neve não é incompatível com o turismo da natureza;

3) O desenvolvimento da Serra, quer através da neve, quer através do turismo da natureza, está em linha com a procura;

4) Alguns terão mais simpatia pela neve, outros pelo turismo da natureza, outros até defendem atitudes mais extremistas, mas opiniões existem sempre muitas. Como “Money talks, bullshit walks”, quem investe vive dos euros que entram no bolso e não das palavras que entram nos ouvidos / olhos.

5) “Ask not what Serra da Estrela can do for you and your ego, Ask what you can do for Serra da Estrela beside criticize”

ljma disse...

1) Claro, anónimo. Acima afirmei que no ano passado estive por duas vezes na estância de esqui e foi agradável. O esqui na estrela pode ser suficiente para as suas (e as minhas) "humildes capacidades", pode deixar-nos satisfeitos durante uma manhã ou uma tarde. Mas imagina-se a esquiar uma semana na Torre? É que é isso que as pessoas vão fazer aos Alpes e aos Pirinéus. Ora, frequentemente o discurso dos empresários turísticos e dos autarcas (principalmente o da Covilhã) sobre a serra revela que acham (ou melhor, que querem que nós acreditemos que eles acham) que podemos ter na serra o que existe nos Alpes ou nos Pirinéus, que podemos concorrer com os Alpes e os Pirinéus, caso haja mais apoios do estado. O anónimo acha que sim? Eu acho que não. Acho que nunca teremos um esqui realmente satisfatório, capaz de concorrer com o dos Pirinéus e dos Alpes, mas que podemos estragar muita serra (e gastar muito dinheiro público) a tentá-lo.
Mas concordo consigo: "opiniões existem sempre muitas".

2) Claro que a neve não é incompatível com o turismo da natureza. A neve é também parte da natureza, é um belíssimo espectáculo. E seríamos tolos se não aproveitássemos a neve para o turismo. Mas o que eu digo neste post não é "abaixo a neve!". A neve não é incompatível com o turismo da natureza, mas são incompatíveis com o turismo de natureza os engarrafamentos e o ruído da estrada, a musiquinha ambiente na pista de esqui e no centro comercial da Torre, o lixo que fica espalhado numa área muito grande (muito maior do que o que se poderia, à primeira vista, pensar), enfim tudo isso que resulta directamente do tipo de aposta na neve que temos feito ao longo dos anos. Dir-me-á que esses efeitos estão localizados? De certo modo sim, reconheço. Mas a área que ocupam vai-se alargando a cada ampliação da estância e a cada nova estrada aberta. E direi mesmo mais: estes "efeitos secundários" que referi são incompatíveis com um turismo de qualidade, seja ele de natureza ou não!
Por outro lado, devo dizer que já ouvi alguns turistas desses que vêm à serra e dão passeios (desses que identificou como do turismo de natureza, portanto) dizer que ficaram tão tristes com o que viram que não pretendem cá voltar. Outros não serão tão "radicais", outros ainda acharão (como o anónimo?) que está tudo bem. Enfim, mais uma vez, concordo consigo: "opiniões existem sempre muitas".

3) "O desenvolvimento da Serra, quer através da neve, quer através do turismo da natureza, está em linha com a procura;"... O que pretende afirmar com isto? Que não há mais turismo de natureza na serra apenas porque não há mais procura?

4) "quem investe vive dos euros que entram no bolso e não das palavras que entram nos ouvidos / olhos."
Claro. Mas quem investe na serra vive uma situação de exclusividade protegida por lei difícil de entender hoje em dia. Pensava que quem usa destas expressões em inglês e adapta citações do Churchill fosse mais sensível a certas realidades muito sui generis aqui da nossa serra. Ainda por cima porque, muitas vezes, o dinheiro investido não é senão o nosso, e "entra nos bolsos" por via de apoios e subsídios do estado. Mais de resto, e mais uma vez, concordo consigo: "opiniões existem sempre muitas".

PS: caro Anónimo, confesso que não sei o que pretende dizer com o mantra que repete incansavelmente: "Money talks, bullshit walks". Pode ser mais explícito, se faz favor?

saudações
José Amoreira

ljma disse...

Esqueci-me do seu ponto 5):
Have you asked yourself that very same question recently? Não é que me interesse a resposta, que a sua opinião, crítica ou não, é sempre bem vinda aqui.
;)

Anónimo disse...

Continuando o diálogo:

1) Eu não me imagino uma semana seguida a fazer esqui, independentemente de ser nos Alpes ou na Serra. Acharia um tédio. Mas, se calhar, nos Alpes tinha que "gramar" com neve durante uma semana, enquanto que na Serra sempre podia ir a outro lado (a um museu, por exemplo).

2) Tratavam-se de portugueses, que sabiam ao que iam. Pela expressão que vi nos seus rostos, gostaram do passeio. Mas, lá está, como sabiam ao que iam, não necessitaram de caminhos marcados, mapas, etc… Aquilo que existe nos outros países, mas que na Serra parece que é um saber reservado, quase tipo seita secreta.

3) Apenas que a procura e a oferta estão equilibrados. Pode ser que não exista mais oferta porque não existe mais procura, ou até que não existe mais procura porque não existe mais oferta. Quando ou a oferta ou a procura se alterarem talvez algo mude…

4) Será a exclusividade da Turistrela a desculpa perfeita para justificar a falta de empreendedorismo de muitos? Só pode ser. Por exemplo, para marcar caminhos, distribuir mapas, ter guias, etc… necessitam do Amém da Turistrela?

5) Ter uma posição moderada e… contribuir para uns blogs :)

ljma disse...

1) Claro que nos Alpes e nos Pirinéus há museus, Anónimo. Mas a minha questão, a que pensava que estávamos a discutir, não é o que o Anónimo ou eu gostamos, é a forma como se está a planear e a organizar o turismo na serra, alegadamente em nome de um determinado e específico gosto, ainda por cima um que, na minha opinião, a serra não pode satisfazer com qualidade.

2) Noutros países, organizações de turismo e/ou de montanhismo definem, assinalam e mantêm esses trilhos. Diferentes países têm diferentes modelos. Aqui na serra, os trilhos ficam por assinalar ou degradam-se até ser difícil segui-los (mas diga-se que o PNSE está a tentar criar uma rede de percursos com diversas instituições tentando definir um modelo de gestão que talvez melhore esta situação). Nisto, creio que temos falhado colectivamente, e assim o tenho afirmado aqui. Não ponho as culpas na Turistrela, na RTSE ou na CMCovilhã, apenas. Ponho as culpas em todos nós (incluindo eu, claro), na nossa falta de cultura e de visão, que se materializa com muito particular clareza no credo generalizado do "Nós aqui vivemos da neve".

3. Aceitemos que a procura e a oferta (de turismo de natureza) se encontram equilibradas na serra da Estrela. Porque será que estão aqui equilibradas num nível tão basal quando comparamos com outras montanhas, como o Gerês, para não ir mais longe? Mais uma vez, na minha opinião, por nossa culpa colectiva. Contra o que considero ser um atavismo nosso (*nosso*, não especificamente deste ou daquele) tenho aqui falado também.

4) "Será a exclusividade da Turistrela a desculpa perfeita para justificar a falta de empreendedorismo de muitos?"

Será a desculpa perfeita, ou não. Parece-me plausível que essa exclusividade desencoraje alguns, e outros não. Seja como for, justifica-se essa exclusividade? É ajustado à realidade um discurso liberal sobre os mercados, a iniciativa e o empreendedorismo, quando a situação é esta?

Podemos achar que a concessão exclusiva actualmente não tem importância, porque ninguém tem vontade de a impor publicamente. Talvez. Mas ela manifesta-se de várias maneiras. Por exemplo, o estado não pode ir contra a lei. Logo, na serra da Estrela, quaisquer parcerias turísticas que o estado queira estabelecer com privados devem ser estabelecidas com a Turistrela. Se não houvesse esta exclusividade, talvez o estado (ou seja, todos nós) conseguisse melhores condições em determinados negócios com outras empresas. Mas não pode ser, porque a lei não permite a actividade de outras empresas, excepto se elas estabelecerem parcerias com a concessionária, em condições que terão que ser discutidas com a concessionária...

Um exemplo concreto: o PNSE fez há alguns anos obras no Vale do Rossim. Construiu um restaurante e um parque de Campismo. Foi estabelecida uma concessão de exploração, atribuída à Turistrela. Por seu turno, a Turistrela tem sub-concessionado a exploração do espaço a outras empresas, impondo naturalmente o pagamento de comissões. Mas que justificação há para o pagamento destas comissões (altas ou baixas, desconheço os montantes), a uma empresa que, tanto quanto sei, não investiu um tostão na beneficiação do espaço concessionado? E será normal o estado pagar melhoramentos em imóveis que, na prática e em resultado da lei, quase considera pertença da Turistrela?

Cumprimentos
José Amoreira

Anónimo disse...

15-02-2010 caiu um grande nevão na serra da estrela ,passado quase uma semana a serra está coberta de neve , e agora eu pergunto : será que os velhos do restelo ainda continuam a jurar de pés juntos que é impossivel praticar desportos de inverno na serra ?!
é só lá ir agora , a resposta está á vista de todos !!!

Anónimo disse...

A grande rival da serra da estrela, lacovatilla, é só ir ao sitio da estancia de esqui , um sucesso !!!!

"...Con el Secretario de Estado, el Gobernador Civil del Distrito de Viseu, Miguel Ginestal y José Azevedo, Presidente da Cámara Municipal de Mangualde, quienes han venido a pasar estos días de fiesta con nosootros con la intención de aprender a esquiar, para lo que han contratado clases con la Escuela Bejarana de Esquí. También han decidido pasar el Carnaval en nuestras pistas algunos directivos de la Federación Portuguesa de Deportes de Invierno, que han acudido con un grupo de esquiadores pertenecientes a un club. En definitiva, durante estos días es necesario "falar portugués" para hacerse entender en la Sierra de Béjar y toda su zona de influnecia, ya que todos estos visitantes han llenado por completo los hoteles y alojamientos de cincuenta kilómetros a la redonda.."

ljma disse...

Anónimo das 23:27, boa noite.
Olhe, eu escrevi no post "é possível esquiar na Estrela" e já reforcei essa ideia aqui em cima. Por isso, não sei quem são os velhos do restelo que "ainda continuam a jurar de pés juntos que é impossivel praticar desportos de inverno na serra" e não pretendo falar por eles.

O que eu disse foi que o esqui na serra não é de grande qualidade. E veja que neste ano em que tem nevado onde já é pouco habitual ver nevar, e depois do tal nevão que refere, três das dez pistas da estância estão encerradas. E o tipo de neve é "Dura/Húmida", de acordo com o site da estância. Acho que as condições actuais, que como diz, estão à vista de todos, continuam a dar-me razão. A Estrela não é grande coisa para o esqui, o esqui que se pode praticar na Estrela é, quase sempre, de fraca qualidade, não há nada que possamos fazer quanto a isso. É a minha opinião que o turismo que basearmos no esqui terá a qualidade do esqui que aqui se pode praticar: quase sempre, assim mais para o fraquinho...

Boa noite e bom fim de semana!
José Amoreira

Anónimo disse...

e o que o senhor ljma , tem a dizer do sucesso de covatilla , lá a neve é praticamente da mesma qualidade da neve que encontramos na estrela , ou não acha ?!
E se covatilla consegue ter sucesso , porque razão é que a estrela estará condenada ao fracasso , será por sermos portugueses ?!

ljma disse...

Boa noite, caro anónimo.
Não sei se a estância da Torre está condenada ao fracasso. Acho é que o esqui na Torre não tem qualidade, não temos condições para que a tenha, e que portanto devíamos basear o turismo noutros segmentos.

La Covatilla é uma pequena estância, próxima da serra da Estrela e somos tentados a pensar que é quase como se tudo fosse igual. Mas note que la Covatilla começa à altitude a que a estrela acaba; (2) o desnível total da estância de la Covatilla (370m) é superior à diferença de altitudes entre a Torre e o túnel da estrada do lado da Covilhã (é o triplo do da estância da Torre); (3) la Covatilla está 100km mais afastada do mar, logo, faz mais frio no Inverno, a meteorologia é mais extrema. Do ponto de vista físico, portanto, la Covatilla tem melhores condições para o esqui do que a Estrela.
Suficientemente melhores, quanto a mim, para se justificar que muitos portugueses a prefiram à da Torre.

Mas há ainda outras diferenças entre as duas estâncias. A de la Covatilla é obrigada a fazer estudos de impacto ambiental para as suas ampliações e a respeitar as conclusões da declaração associada; deve cumprir um regulamento ambiental (que, por exemplo, obriga a estância a colaborar na recolha do lixo disperso); é gerida de forma mais profissional e com mais respeito pelos clientes (pelo menos é o que leio em foruns de esquiadores). Por fim (e talvez por essa razão haja por lá mais respeito pelos visitantes), na sierra de Bejar não há nenhuma concessão exclusiva válida há 40 anos e por outros tantos para o futuro, incidindo não apenas no esqui mas em todas as actividades turísticas e desportivas: na Sierra de Béjar ninguém pode dizer "Isto é tudo meu!", como um certo indivíduo diz frequentemente por cá, referindo-se à serra toda.

Boa noite
José Amoreira

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!