Perto de Arenas, já no interior do Parque Nacional, um pequeno povoado chamado Bulnes subsiste ainda sem acessos rodoviários (nem asfaltados nem por asfaltar). Até ao ano 2000 apenas um trilho estreito que se sobe (a pé) em cerca de hora e meia permitia chegar à aldeia, partindo de Poncebos. Nesse ano foi inaugurado um funicular subterrâneo com dois quilómetros de comprimento (cerca de 650 m de desnível), que permite aos habitantes do povoado receber mantimentos e escoar os seus produtos (agora poucos, que a aldeia vive mais do turismo). O funicular é gratuito para os habitantes, mas custa 15€ (18€ ida e volta) aos turistas que o querem utilizar (e são muitos). Apesar de receber muitos visitantes e de apostar em força no turismo, a aldeia procura manter o carácter pitoresco de pequeno povoado de montanha, coisa que é muito facilitada pela completa ausência de automóveis. Tudo o que tende a esbater a percepção desse carácter é eliminado ou, se tal for impossível, escondido. Por exemplo, note-se o sistema de iluminação pública (ver a fotografia acima) que ilumina o caminho entre o terminal do funicular e a aldeia.
Apesar da rusticidade dos "postes de iluminação" do acesso ao funicular e do aspecto geral do povoamento, não se pense que não houve uma efectiva requalificação e uma efectiva melhoria (face aos critérios normalmente utilizados nestas avaliações) das condições de vida das suas poucas dezenas de habitantes. A aldeia tem saneamento básico, electricidade, frigoríficos, televisões, restaurantes, cafés e casas de turismo rural e de habitação, ligações telefónicas e de internet, acessos muito mais rápidos a escolas e centros de saúde. Reconstroem-se (mantendo os traços originais) as casas que foram ficando em ruínas. E a aldeia é visitada por milhares de turistas.
Na serra da Estrela temos preferido (e continuamos a preferir) centros comerciais, alcatrão, muito alcatrão, minicidades, apartamentos, comércio rasca, casino, neon, muito neon, aproveitamentos das "torres das bolas" e musiquinha em alto volume. E o lixo que vem com tudo isso. Na minha opinião, temos confundido requalificações com exibições de novo-riquismo. Mas, reconheçamo-lo, é também por estas e por outras como estas que nós temos o "turismo" que temos e os outros têm o turismo que têm.
5 comentários:
Boa Noite,
Alguem conhece um caminho na Serra da Estrela, que seja tão agradável como o Bulnes-Poncebos, que apenas demore 1h30m a efectuar e que seja para familias? É que até agora só encontrei caminhos pouco adequados para a resistência de crianças com menos de 10 anos.
Boa noite, anónimo.
Bem, a serra da Estrela é diferente dos Picos da Europa.
Não há nenhum trilho na serra igual aos dos Picos, isso parece-me claro. Mas todas as semanas dou passeios aqui na encosta da Covilhã pelos caminhos florestais e ainda não me fartei. Tenho a certeza que há caminhos igualmente agradáveis nas redondezas das outras localidades nas faldas da serra. Menos frequentemente, passeio pelas zonas mais altas da serra, faço-o há uns trinta anos. Continua a agradar-me, imenso. Não é o mesmo que os Picos da Europa, nunca o será. Mas é agradável também. Para uns menos agradável, para outros mais agradável. Cada um saberá de si.
Quanto à adequabilidade para crianças pequenas, bem, isso também cada um saberá de si. Quando passeio com os meus filhos (10 e 14 anos), mantenho sempre em aberto a possibilidade de interromper a actividade antes do previsto, voltar para trás, fazer um passeio mais curto, etc. Isso na serra como nos Picos.
Não sei se concorda comigo, mas parece-me que o trilho Bulnes-Poncebos (em extensão e desnível, parece-me comparável à descida Torre-Piornos) se pode considerar adequado para crianças pequenas apenas porque é sempre a descer, e porque em sentido inverso, na subida, se pode aproveitar o funicular.
Ora, parece-me claro que não foi para facilitar o passeio às crianças, aos idosos, aos deficientes e, em geral, aos turistas que se construiu o funicular; foi para facilitar a vida aos habitantes de Bulnes.
Por acaso o trilho Bulnes-Poncebos aproveita esta estrutura tornando-se assim "mais adequado" para crianças, óptimo! Mas não concordo (e não me parece que seja a filosofia seguida nos Picos) que se multipliquem coisas semelhantes para tornar a montanha (com toda a carga simbólica de esforço, de conquista, de local duro e puro com que gostamos de a decorar) "mais adequada" para as poucas forças destes ou daqueles (e são sempre poucas as forças [de vontade] enquanto houver alternativas que as tornem dispensáveis), mesmo que em nome das crianças ou dos idosos.
Como dizia o Torga, é a quem a caminha esforçadamente que a montanha desvenda os seus tesouros. Não é a quem a sobe de funicular, carro ou teleférico e a desce comodamente, "se ainda tivermos forças para isso". Pior ainda, duvido que ainda haja muito quem queira esforçadamente caminhar a serra, se nela se multiplicarem estas "melhorias".
Em resumo, e falando por mim: com os meus filhos, ando onde eles puderem andar. Não peço, para poder andar com eles nalguns trilhos, "melhorias" que os tornem mais "adequados". Terei (talvez) tempo no futuro para ir com eles aos sítios onde eles hoje ainda não conseguem ir.
Mas suspeito que concorda comigo, caso em que este "sermão" era escusado.
Saudações
José Amoreira
PS: Fiz a descida Bulnes-Poncebos a pé, depois de ter subido... no funicular. Mas a "culpa" não foi só das crianças. É que a preguiça anda muito bem distribuída...
Torre-Piornos. Ok.
Agora só falta o "meio de transporte" para subir de Piornos até à torre :)
Não falta não. Pode subir-se a pé. É uma maravilha! Ou de carro, se quisermos fazer o passeio em um décimo do tempo e tendo um décimo do gozo.
Repito que em Bulnes não se tentou facilitar o transporte aos turistas. A preocupação foi sim ajudar os habitantes. Creio até que, durante algum tempo, o funicular era apenas para os moradores, estando vedado aos visitantes. Claro que, nos moldes em que agora funciona, assegura-se o seu financiamento sem encargos para os da terra.
Comparei os trajectos Bulnes-Poncebos e Torre-Piornos apenas para dar uma ideia da extensão e desnível do primeiro, porque imaginei que muitos leitores não o conhecem. Tirar dessa comparação justificações para a construção de um teleférico ou de um funicular como em Bulnes não me parece apropriado porque (1) na Torre não há uma aldeia, não há habitantes; (2) a Torre está servida de estrada e não há planos para a encerrar ao trânsito.
Saudações
José Amoreira
Proposta 2: Passeio à volta da Lagoa Comprida
Proposta 3: Penhas Douradas - Nave da Mestra - Penhas Douradas
Proposta 4: Torre-C. Gordo - Charcas-Covão do Boieiro-Lagoa Serrano-Torre
É só pegar no mapa de trilhos e com imaginação aproveitar troços de uns e de outros. Estes que sureri são bastante faceis de identificar e o trilho é em geral pouco técnico - diria que adequado para crianças a partir dos 6 anos.
Abç
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