quinta-feira, setembro 24, 2009

Em quem gostava de votar nas autárquicas

Cada um sabe de si e todas as escolhas são legítimas, como é óbvio. Mas como com tudo, é também legítimo cada um apresentar e justificar as suas opções. Assim como o é igualmente defender as suas opções, em confronto com as dos outros. Chama-se a isso discutir. O resultado da discussão nem sempre é o consenso, nem tem que o ser. A discussão já vale a pena quando fica claro o que é que distingue as várias opções em confronto. Por tudo isso, não me sinto minimamente constrangido em dizer aqui quais as opções que eu gostaria de ver defendidas publicamente por listas candidatas às autárquicas. Seria nessas que eu gostaria de votar. No que diz respeito à serra (que é o que concerne a'O Cântaro Zangado), cá vai.

Não me inclino especialmente a votar num candidato afirme que vai defender o ambiente e a paisagem da serra da Estrela, promover um desenvolvimento sustentável do turismo e diversificar as suas valências. Ao fim e ao vabo, há algum que não faça estas pias declarações? Gostaria sim de votar num que colocasse reticências à asfaltação de mais caminhos florestais, que se opusesse ao aproveitamento turístico e comercial dos edifícios na Torre, que fizesse ouvir a sua voz na promoção de medidas que limitem o tráfego automóvel pelo maciço central, que se afirmasse contra a aberração anacrónica que é a concessão exclusiva do turismo e dos desportos atribuída há quarenta anos à Turistrela.

Não me inclino a votar num candidato que afirme que vai promover uma grande requalificação urbana das Penhas da Saúde (que dessas afirmações, e do que resultou dessas afirmações, já tivemos a nossa conta, obrigado), mas sim num que defenda a redução do seu perímetro urbano à área já hoje efectivamente afectada (e que, em resultado do habitual e normal desordenamento, é muito maior do que o número de construções existentes justificaria). O mesmo posso dizer das Penhas Douradas (embora a situação actual, aí, não tenha a gravidade do que se verifica nas Penhas da Saúde, nem pouco mais ou menos).

Gostaria de poder votar em candidatos que compreendessem (e vertessem essa compreensão nos seus programas políticos e nos seus discursos) o potencial turístico das aldeias e vilas nas faldas da serra; pelo contrário, não penso votar em candidatos que apenas prometam para essas aldeias e vilas teleféricos ou novas estradas de asfalto a caminho da Torre, como se a Torre fosse o único local interessante da serra, como se a Torre fosse mais interessante que as vizinhanças dessas aldeias e vilas.

Não votarei em candidatos que desprezem os meus ambientais interesses e preocupações com frases como "antes das florinhas estão as pessoas", como se fosse esse o cerne dos problemas.

Por fim, uma medida concreta: gostaria muito de poder votar em candidatos que prometessem a criação, nos seus concelhos, de estruturas semelhantes ao Centro de Interpretação da Serra da Estrela, da Câmara Municipal de Seia.

Com tudo isto, deve ser claro em quem não pretendo votar. Em quem votarei, ainda não sei. A ver vamos.

22 comentários:

TPais disse...

Olá,
o problema é conseguir ter tudo isso num candidato. O problema é tentar saber qual o posicinamento de cada candidato a todas as questões que nos preocupam; normamlmente não abordam todas ( o que é natural). Tambem tenho a tendencia de pensar assim, mas ao ler os programas dos vários partidos ou candidatos, dou por ela a votar nuns e noutros em diferentes assuntos!!
Qual é a conclusão para mim? São duas: 1ª e mais preocupante, os partidos não tem uma visão ou estratégia de futuro clara, de forma que tomam posições algo adhoc, dependendo do momento e da inspiração ou conspiração. Isto faz com que o eleitor não tenha a minima ideia do posicinamento do partido/candidato face a alguma questão especifica que não tenha sido falada ou descrita nos respectivos programas eleitorais;
2ªConclusão, procurar o mais possivel destrinçar qual a verdadeira ideologia dos candidatos e votar naquele que mais se aproxima da nossa, não só no que respeita às questões estrategicas de desenvolvimento do país mas tambem muito importante na forma como lidam com os processos democráticos e os favorecem.

Abç e bons votos para este fim de semana!

trepadeira disse...

Esta campanha,na medida em que não pude evitar o bombardeamento,fez-nos recordar:
Aquele cartaz aparecido numas eleições na década de setenta,tinha um pimpão galo de Barcelos com a legenda-RUIM POR RUIM VOTA EM MIM.
Ou aquela inscrição feita no Técnico,aquando da mudança da pide para dgs,"neste país é preciso que alguma coisa mude,de nome,para que tudo continue na mesma".
Também não votarei em quem por aqui vai uivando à lua"borboletas e passarada é para matar tudo".Também não votarei em quem o apoia.Parece que é mais do que um partido!
Quero mudar esta situação.Não se muda votando no passado.
Votar no passado só adia o futuro.
Um cordial abraço,
mário

António Abrantes disse...

Sinto muitas dúvidas e algum receio de parecer oportunista a participação neste blogue. e sobre esta entrada.
Apresento-me dizendo que sou António Abrantes, candidato independente da CDU à Câmara de Seia, profissionalmente um velho professor de Matemática. Passo com alguma frequência por blogues da região e o cântaro zangado é um dos que me ficam na viagem. Tropecei neste artigo e hesitei em entrar na conversa. Sou candidato de um deus menor. Mas de uma coisa podem estar certos. A minha abordagem sobre a região e a Serra não é a de um expert na matéria, mas reconheço as vozes que gosto de ouvir a as fontes onde sinto vontade de beber. Defendo publicamente posições ligadas A`ASE em matéria de acessibilidades, à URZE com a sensibilidade de quem cresceu, viveu e ainda vive com o cheiro da terra, com a enxada de companhia em bastantes momentos, que sabe cozer o seu próprio pão. Gostaria de saber mais. Sei ouvir e sei estudar, sei analisar e sintetizar. a algarvização não, as nossa terras, os nossos leirões e levada de água. as regas a pé e o cheiro das vacas e o atrevimento das cabras.
Vou passar por aqui mais vezes.
Estou em Um novo olhar sobre Seia"

Anónimo disse...

Boa Noite,

Boa parte das hipóteses levantadas neste post, e respectivos comentários, depara-se, na minha opinião, com um problema: Existe uma divisão administrativa na Serra, que impede a definição de uma estratégia única.

Cada Município gosta da sua quintinha (leia-se, adjudicar obras aos seus amigos, cobrando a habitual comissão…), sendo que as escolhas acabam por ser condicionas pelo lucro imediato.

Mais do que matar ou não borboletas, destrui ou não edifícios, construi ou não estradas, a falta de um plano integrado de desenvolvimento turístico da Serra impede os responsáveis políticos de vislumbrar qual o potencial económico que o turismo de natureza possa trazer à Serra.

Nesse campo, julgo que existe espaço para a UBI/DGE efectuar estudos sobre o tema. É que tradicionalmente, as universidades costumam ser vistas como alguém independente do poder político e económico.

Cumprimentos,

João Coxo.

TPais disse...

Caro João,
informo que de estudos desses já estamos todos cheios, nomeadamente feitos por gente da UBI. Sugiro tambem a consulta do PETUR disponivel na net! Muito bom mas como todos acabaram na gaveta. Este teve a honra de ser apresentado publicamente sem a presença de ninguem da CMC pesembora ter sido esta a encomenda-lo.
O problema é que ainda não apareceu nenhum que responda ao que eles querem, ou seja, que diga que o que a serra precisa é de mais e mais estradas e mais e mais elefantes brancos. Outro estudo na gaveta é o da requalificação das penhas da saude. Caricatamente, a CMC já pagou diversos estudos sobre isto e até agora nenhum foi concretizado. E posso lhe dizer que neste caso não foi por causa do ICNB nem de nenhuma CCDR. Todos estes deram parecer positivo ao estudo mas isso não interessa para nada porque a aplicação desse plano acabaria com a balburdia e, embora não do meu total agrado, poria um ponto final à proliferação da área urbanizada das Penhas. Onde não há lei cada um faz o que quer e as Penhas da Saúde são uma especie de "no man's land".

Portanto, o que faz realmente falta é assumir o compromisso de se fazer o que tem de ser feito. Se todos os municipios fizessem isso a visão integrada estaria conseguida pois no fim das contas todos os estudos e o bom senso chegam às mesmas conclusões.

Abç

TPais disse...

Só para clarificar esta minha afirmação:
"e, embora não do meu total agrado, poria um ponto final à proliferação da área urbanizada das Penhas. "

O que não é do meu total agrado é o plano de requalificação em si, e não o facto de este permitir por um ponto final à expansão ilegal da area urbanizada. Espero que tenha ficado isto claro. Já agora, o plano não do meu total agrado pois apesar de prever um perimetro urbano mais reduzido que o actual (efectivo) prevê tambem o aumento do indice de construção dentro deste perimetro urbano legal...não se pode ter tudo mas provavelmente seria um cenário menos prejudicial quer ambiental quer para o turismo de natureza.
Abç
TP

Anónimo disse...

Boa Noite,

Efectivamente desconhecia o PETUR. Contudo, vou continuar a desconhecer, pois não descobri o documento acessível ao público.

Apesar de não conhecer o documento, fico sempre na dúvida sobre os factos que levaram à sua não implementação. Será que se tentou passar do 8 para o 80? O plano era escalável? Etc…

Porque é que os autarcas locais não aceitam a sua implementação? Só por causa do imobiliário (leia-se, mais luvas, mais IMI, etc…)? Existe aqui algum elo que falta para explicar tudo.

Cumprimentos,

João Coxo.

TPais disse...

Olá João,
peço desculpa por não ter indicado o link correctamente para o PETUR. Escrevi isto ontem um pouco à pressa e só hoje percebi que aparenetemente o estudo já não está disponivel online. Existe um link aqui no CZ chamado "PETUR Blog". Se quiser pode obter o ficheiro aqui. Aponto tambem para uma noticia no publico da altura com algum interesse: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1262499&idCanal=

Aproveito para corrigir alguma da informação prestada. Este estudo teve algo original que foi o facto de ter sido pedido por vários municipios em conjunto, exactamente com o intuito de promover uma integração de estratégias e rumo para o desenvolvimento turistico da Estrela.

Não me revejo nas duvidas que levanta sobre o 8 ou 80. Não tenho conhecimentos suficientes para dizer o que é que é 8 ou 80 em termos de implementação das acções e estratégias previstas no estudo. Mas posso dizer que, assim como o João, considerei à partida um estudo feito por pessoas da UBI, nomeadamente o Pedro Guedes de Carvalho, merecedor de toda a credibilidade e seriedade. Sendo assim, e sendo um documento estratégico claramente cobre periodos distintos de adopção da referida linha de rumo, nomeadamente um periodo destinado a fases de transição.

Posso tambem dizer que não concordava com tudo o que estava nesse estudo mas tambem posso dizer que esse estudo denota uma visão e uma estratégia com objectivos mensuráveis e muito consciente dos riscos e dos potenciais.

Se a este estudo acrescentarmos o outro feito no ambito da revisão do Plano de Ordenamento do PNSE (ver www.ICNB.pt pagina de ordenamento de POAP) ficamos com toda a informação mais que necessária para a implementação de uma estratégia de desenvolvimento equilibrada que não ponha em causa o objecto de interesse que é o ambiente natural e cultural da SErra da Estrela.

Realmente, "the million dollar question" é qual o elo que falta para explicar esta inercia e apatia. Para mim, é a necessidade de ter resultados hoje e não amanha para manter o/s povo/s contentes.
Abç

ljma disse...

Trepadeira, já tinha lido no seu blog essa do "Ruim por ruim, vota em mim". Tem muita graça. Muita mais do que estes cartazes todos iguais, com a cara do líder olhando olhos nos olhos os transeuntes, acompanhado de uma frase vazia e desinspirada.

António Abrantes, bem vindo aqui ao Cântaro. Nós também não nos sentimos experts. Mas, claramente, "expertize" é coisa que não é necessária para se falar da serra, ou mesmo para se marcar a serra durante décadas: veja-se o caso do teleférico Piornos-Torre, que foi praticamente acabado mas nunca funcionou por se ter percebido, já no final das obras, que seria muito perigoso; ou veja-se (desculpe, João Coxo, voltar a este assunto, mas parece-me mesmo mais um exemplo de falta de estudo sério, de "expertize") a base dos radares da Torre, que funcionou como tal apenas durante dez anos (deve ter demorado quase tanto a ser construída)... Ora se todos falam e constroem na serra claramente sem saberem bem o que dizem e o que fazem, nós também temos esse direito, ou não?

Eu tenho medo, quando escrevo posts como o que motiva estes comentários, de dar a ideia que acho que os políticos (ou seja, os que se empenham nos partidos, nas campanhas, etc) são todos uma corja de bandidos. Não creio que assim seja. Creio que em todos os os partidos há gente boa e gente má. Tenho uma grande admiração pelos que conseguem dar o corpo ao manifesto, participando nas campanhas e dando a cara por aquilo em que acreditam. Penitencio-me pela minha perguiça e comodismo nesse aspecto.
António Abrantes, aceite os meus votos de felicidades para a campanha e para o "Novo olhar sobre Seia!".

João Coxo, sem dúvida que todos temos responsabilidades pelo estado actual da coisa e, em particular, pelo que os políticos dizem e fazem. Mas a UBI (ou outras entidades capazes de realizar estudos e reflexões estratégicos) não é agora candidata a eleições. Claro que há candidatos melhores e piores, claro que todos eles são, em maior ou menor grau, o resultado também de circunstâncias externas sobre as quais podem não ter grande controlo, mas são os candidatos que devemos escolher, em função do que são e do que dizem.
Por outro lado, há uma classe de políticos que entendem que para conseguir os votos das pessoas dos escalões socio-culturais mais baixos, têm que cultivar uma certa distância aos processos de estudo, de análise, de reflexão: lembramo-nos de Cavaco Silva, ainda 1º ministro, afirmando orgulhoso que não lê jornais, ou os sistemáticos ataques de João Jardim às "corjas de intelectualóides". A esses políticos não interessam estudos, nem grandes profundezas. Francamente, com que estudos ou análises se pode convencer uma personalidade voluntarista e autoritária como Carlos Pinto (actual presidente da Câmara da Covilhã) de qualquer coisa da qual ele não esteja convencido à partida?

E, ao fim e ao cabo, desculpar as más decisões e as más políticas dos autarcas com a falta de análises feitas por terceiros... Não é um pouco como desculpar crimes concretos com o mau ambiente social e económico em que os que os cometem vivem e crescem? Face à adversidade, alguns cometem crimes, outros não. Face a uma eventual falta de estudos estratégicos (mas o Tiago já explicou que a coisa não é bem assim), alguns autarcas dizem e decidem asneiras. Outros não. É nestes que eu quero votar.
Pelas mesmas razões que espero que os criminosos sejam condenados, independentemente das dificuldades por que tenham passado ao longo das suas vidas.

Saudações cordiais
José Amoreira

trepadeira disse...

Há algum tempo propunhamos ao Teatro Municipal a prestação de um indispensável serviço público:
Nos dias sem espectáculo devaria utilizar-se o PA para aulas obrigatórias de rudimentos de democracia,ambiente,respeito pelos outros,etc.,etc....
Agora vejo no blog di Beppe Grillo( 1 dos 10 mais lidos no mundo),entre outras propostas mais abrangentes e mais radicais,esta:
Aulas,obrigatórias,a todos os eleitos,sobre a constituição,com exame final.
Parece-nos muito interessante.
Para melhor entendermos de que autarcas estamos a falar,deixava o link de acesso,não a todo o estudo,embora considere muito importante a sua leitura,ao relatório final (http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/67CB0E9A-4B39-439B-8B9A-BA6B8FBD407F/0/Parecer_CTA.pdf).Chamava especial atenção para a correspondência trocada entre as autarquias e a comissão,da qual também faziam parte.
Nem uma só proposta de conservação.
O resto não necessita de comentários,é bem claro.
mário

ljma disse...

Só duas coisas.
1) "Expertize" parece que é com "s": expertise (tenho que escrever no quadro, 100 vezes, "Devo verificar sempre a ortografia das palavras que me são pouco familiares")
2) Quanto à link para o relatório que o Tiago disponibilizou, é a seguinte:
http://cid-a3d36fd99893f0c1.skydrive.live.com/self.aspx/P%C3%BAblica/PETUR/PETUR%5E_Mar%5E_06.zip#resId/A3D36FD99893F0C1!382

Clique em Transferir e escolha Guardar. Clique depois no icon do ficheiro guardado. Não é muito prático, mas é o que se pode arranjar....
Saudações
José Amoreira

trepadeira disse...

Agradeço o acompanhamento do blogue.Também o CZ está nos favoritos,com várias visitas às vezes diárias.
Com base nos estudos encomendados uns e,participados outros,vamos concretizar uma proposta que vimos,sem sucesso,apresentando à câmara-criação de uma zona de observação.
É o que propõe o TAGIS e a Bio 3.
link para os estudos estão,há já algum tempo,no blogue.
Na fase de concepção vamos por em discussão e gostariamos de contar com o vosso contributo.
Vamos propor uma forma diferente de ver e viver uma parte da serra.
Um forte abraço.
mário

Anónimo disse...

Caros,

Muito interessante o relatório.

Face à falta de entendimento das entidades locais, bem como de grupos da sociedade civil e da economia local com capacidade de influenciar essas entidades locais, só vejo uma forma para isto andar: O Governo tomar nas suas mãos o tema, independentemente dos interesses das entidades locais. Este tema deve ser visto como Nacional e não como Regional. Pode ser o All Serra Star.

Mais comentários:

Radares:
Continua o tema dos radares. Para esclarecer as almas mais inquietas, passo a detalhar: Nos anos 50, face à tecnologia disponível na época, foi decidido instalar 4 radares primários em Portugal Continental. A saber: Serra do Pilar (Paços de Ferreira), Serra da Estrela, Montejunto e Fóia (Monchique). Por evolução tecnológica, no início dos Anos 70 tornou-se possível cobrir o território continental a partir de 2 localizações. A saber: Serra do Pilar e Montejunto, sendo estas as localizações actuais para esses radares. Pergunta: Nos anos 50 já se sabia que nos anos 70 seria possível ter apenas 2 radares? Claro que não. Não é necessário muita expertise para perceber que nos anos 50 saber o que se ia passar nos anos 70, só está ao alcance dos videntes.


Corja de bandidos:
Tecnicamente, chama-se corrupção.

Políticos locais:
Duvido que algum dos autarcas da zona da Serra seja pacóvio, ou que alguma vez tenha posto os interesses da população acima dos seus (note-se que não estou a dizer que não olham pelos interesses da população). Não entendo a que adversidade se refere o José Amoreira, pois a forma descarada com que actuam, é de quem sente total impunidade.

“Todos temos responsabilidade pelo estado actual das coisas”:
Eu garantidamente que não tenho.


Cumprimentos,

João Coxo

ljma disse...

João Coxo, viva!
Radares:
Continua a falar de uma certa evolução tecnológica sem a explicar. O João quer que eu acredite que um certo desenvolvimento tecnológico passou, em apenas quinze anos (e não são quinze anos dos de agora, mas doutra época, bem diferente neste aspecto), de completamente imprevisível para completamente desenvolvido, em produção industrial e aplicado, ainda por cima aplicado num país notoriamente atrasado, onde as novidades só chegavam vinte anos mais tarde. Desculpe, João Coxo, mas eu duvido. E não diga que é porque sou físico e os físicos têm a mania de por tudo em causa! Dirá que tenho dúvidas porque sou ignorante. Pode ser. Por isso, se tem mesmo razão, há uma maneira simples de me convencer: explique-me detalhadamente que evolução tecnológica foi essa. Já lho pedi inúmeras vezes, mas o João tem-se sistematicamente furtado a esclarecer-me, coisa que só vem reforçando as minhas dúvidas. Assim, continuo a pensar que terá sido mais por voluntarismo novo-rico e vontade de "deixar marca" (motivações muito típicas entre nós) que se decidiu construir ali a base. Para a abandonar dez anos depois.

Corjas de bandidos:
OK, passo a explicar melhor o que queria dizer: não acredito que todos os políticos sejam corruptos, acredito que os haja corruptos e não corruptos em todos os partidos.

Políticos locais:
As adversidades a que me referia são aquelas que frequentemente são invocadas para justificar (e até para desculpar) comportamentos claramente reprováveis, como os roubos. A única relação com o que estamos a falar é que o João invocou a ausência de estudos para justificar as más opções dos políticos, argumento que eu comparei aos dos que tentam justificar as acções dos criminosos.

“Todos temos responsabilidade pelo estado actual das coisas”:
O que eu queria dizer com todos sermos responsáveis é que talvez todos podessemos fazer mais do que o que fazemos para corrigir as situações com que não concordamos. Se o João Coxo acha que não pode mesmo fazer mais do que o que já faz, a minha expressão não se aplica a si. Mas a mim aplica!

Saudações cordiais!
José Amoreira

Anónimo disse...

Caro José Amoreira,

Eu pessoalmente estou mais interessado na "the million dollar question". Trocar ideias sobre como poderemos desbloquear e impulsionar algo que está na base deste blog. O contributo que posso dar é disponibilizar o meu know-how neste debate, pois considero que ainda existe pureza intelectual neste blog. Talvez desta partilha de ideias surjam ideias novas, que contribuam efectivamente para responder à falta de desenvolvimento do turismo de natureza na Serra.

Neste momento, estou mais inclinado para considerar que localmente será difícil fazer alguma coisa, pelo que alvitrei a hipótese se ser efectuado centralmente, mas ainda não percebi se concorda ou não com essa abordagem.


Cumprimentos,

João Coxo.


PS: Sobre Radares, acredite no que quiser.

ljma disse...

Olá, João Coxo!
Claro, é um pouco por razões semelhantes que comecei este blog. Pode ser que das discussões que vamos mantendo mais pessoas se vão convencendo a olhar crítica e realisticamente para a serra, para o que nela fazemos e podemos fazer.

O seu know-how, como o de todos, é aqui considerado valioso.

A pureza intelectual que eventualmente ainda tenhamos neste blog (muito obrigado pela consideração) não é um reflexo de termos (eu e o TPais) razão. Não sei se temos razão. Temos sim opiniões, que aqui colocamos abertamente para debate. Defendemos honestamente (isto é, não usamos nunca argumentos que sabemos ser falsos) as nossas opiniões. Tentamos não ser ofensivos, mas admito que às vezes, quando a discussão aquece e me distraio, me deixo resvalar um pouco nesse sentido.

Voltando ao que interessa, também acho que é difícil localmente fazer alguma coisa. Mas as coisas vão-se fazendo, mesmo assim. Estou a pensar no CISE (Centro de Interpretação da Serra da Estrela), uma estrutura da Câmara Municipal de Seia com uns seis ou sete anos e que considero que tem feito um trabalho a todos os títulos excepcional; ou no CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens), uma estrutura do PNSE que a associação ALDEIA (ou elementos dessa associação, não sei) pôs a funcionar e que também têm desenvolvido um trabalho notável; estou até a pensar na Turistrela que nos últimos anos começou também a oferecer umas "experiências" de turismo ambiental e activo (ainda que o faça principalmente para promover os seus hotéis, já que a maioria dessas experiências não parece dirigida a pessoas que não fiquem neles hospedadas).

Ou seja, as coisas não vão bem, mas acho que já não vão assim tão mal. O governo pode ter um papel aqui, claro. Mas eu tenho as minhas desconfianças dos vários governos que nos têm governado. Ou seja, receio que, do governo (de qualquer governo na linha dos que temos tido, não me refiro especificamente a este) seja mais de esperar o mau do que o bom... Por outro lado, duvido que alguma coisa aqui funcione se nós, os locais, não quisermos que ela funcione, se nós não apostarmos nela.

Saudações
José Amoreira

TPais disse...

Trepadeira,
é de facto verdade que as reivindicações das Camaras não assentavam em propostas de conservação. Mas justiça seja feita, é natural que assim suceda tendo em conta o panorama actual de relações ICNB/Municipios. É natural que a visão dos municipios vá no sentido de tentar responder ao que eles consideram ser as aspirações dos seus municipes. Penso até, que em condições normais, as reivindicações dos municipios (e em algumas delas até concordo) originem um documento final de PO mais equilibrado. Por outro lado, tem o beneficio de obrigar os representantes do ICNB a reflectirem uma e duas vezes sobre aquilo que propõem e dessas forma consolidar a argumentação por trás das ideias que defendem.
A minha critica aos municípios não reside, por isso aí. A minha critica reside naqueles que não se deram ao trabalho se quer de participar nas reuniões CTA porque simplesmente não queriam ou não sabiam argumentar. Critico tambem o facto de o Turismo de Portugal ter servido como representante da Turistrela e por diversas vezes intervir na defesa dos interesses específicos desta e não dos interesses do turismo do PNSE em geral.
E por ultimo, posso dizer que tambem não gostei de ler as respostas dadas pelo ICNB no ambito da Consulta publica. Fiquei realmente surpreso com o tom autoritário com que os representantes do ICNB responderam a algumas das questões onde se exigiam respostas bem argumentadas e assentes em factos concretos.O relatório de ponderação é fertil em respostas do estilo "porque nós (ICNB) dizemos que é assim".
Abç

TPais disse...

Caro João,
compreendo a lógica do "se eles não se entendem então que venha o governo central e se entenda por eles", mas esta situação já deu mostras de não resultar de todo. Depreender que o poder distante consegue resolver os problemas locais à revelia das instituições democráticamente eleitas pelas populações é, na minha opinião, um erro de jugalmento. Os vários municipios "dão-se mal" entre si mas é costume darem-se pior com um governo central que pretenda alterar o status quo das coisas.
E ironia dos destinos, o próprio ICNB/PNSE, extensão local das politicas centrais, é talvez o exemplo maior da incapacidade do estado em implementar as suas politicas e uma visão de interesse publico.
Em termos concretos temos tambem exemplos pontuais onde a actuação do governo foi desastrosa e roçando a legalidade:
1º-Legalização em conselho de ministros do bairro dos Chalés da Turistrela. Este bairro de Chalés foi construído sem enquadramento legal, violando o plano de ordenamento que definia aquela área como zona de protecção ao Hotel Serra da Estrela que ficou assim definitivamente diminuido no seu enquadramento paisagistico e arquitectonico.
2º-Atribuição e prolongamento da exclusividade de exploração do turismo acima dos 1000metros de altitude a uma unica empresa privada
3º-Estrada S.Bento-Portela do Arão construida recentemente. Acabou-se com um estradão de grande passagem pedestre e ciclista para permitir que meia duzia de carros por semana possa ir mais rápidamente de loriga à Torre, com implicações graves na gestão do trafego durante o inverno pois implicou a deslocação da barreira de transito para 100 metros (verticais) mais acima onde as condições meteorológicas são substancialmente mais agrestes
4º-Cedência (através do min do ambiente/ICNB) à construção da Estrada Verde quando o próprio estudo realizado pelo ICNB durante a revisão do plano de ordenamento referia a "desnecessidade" de aumentar as vias viárias assinalando a existência de uma já boa rede viária local.

Como vê, a gestão central não me inspira mais confiança que a local. Não nego, no entanto, a necessidade de haver regulamentação de origem central. Aproveito para referir a ex-Região de Turismo da Serra da Estrela que, supostamente representante do estado central e que foi durante toda a sua vida a personificação da inércia elevada à potencia infinita.

Resumindo, por principio acredito que os locais devem decidir o seu destino com as vantagens e desvantagens que isso possa trazer. O que tenho muitas duvidas é que alguem de "fora" consiga resolver aquilo que os de dentro não foram capazes.

Julgo que a solução terá de passar pelo crescimento do tecido empresarial local a nivel do turismo de natureza que depende de 3 grandes factores: i) fim da turistrel enquanto detentora unica dos direitos turisticos da Serra; ii) cooperação das empresas turisticas para a estruturação de um produto padrão para todo o PNSE (imagem de marca); iii) adjudicação da gestão de determinadas infra-estruturas a entidades não publicas (refiro-me por exemplo dos trilhos pedestres e não só) através de contratos programa.

Se estes 3 factores começarem a ser trabalhados, começaremos a ver uma mudança no paradigma turistico e na forma como os autarcas encaram o Turismo de Natureza que a bem da verdade ainda é visto por muitos politicos como o turismo dos maltrapilhos e tesos.

Abraço

TiagoP

PS:peço desculpa por eventuais erros mas como estou ainda a ver as eleições não revi o texto antes de publicar

trepadeira disse...

Estavamos apenas a falar de eleições.Estávamos a tentar definir o perfil de candidato em quem votar.
Aqueles que não participaram,julgo,já tinham garantido por outra via,ao que parece,algumas das alterações pretendidas.
Quando digo que o resto é claro,refiro tudo.
Para além de o ICNB nem sequer se dar ao trabalho de responder a algumas observações técnicas que fizemos aquando da discussão pública,deixo aqui o extrato de uma opinião da Srª. vice-presidente daquele organismo:
"Também considera este instituto que a actividade cinegética é conciliável com as acções de cariz educacional e científico realizadas pela Fundação Trepadeira Azul.".
Estamos a falar de visitas de crianças das escolas e de recolha fotográfica,para levantamento de fauna e flora,feita por fotografos científicos e por nós.Há fotografias que demoram anos a conseguir,como sabem melhor do que eu,mesmo sem perturbações.Para as crianças,o facto de poderem levar um tiro deve ser considerado,radical e de adrenalina ao máximo.A zona de caça está a cerca de 5(cinco)mts do posto de observação de aves.
Estamos a falar de Rede Natura 2000
e de Área de Intervenção Específica.
Estamos a falar de uma zona de caça MUNICIPAL,sem parecer da comissão cinegética e com parecer negativo do núcleo florestal para metade da área abrangida.
Estes são os amores para com a arrogância do ICNB.
Acrescento,em abono da verdade,que tenho boas relações e respeito pelos técnicos do ICNB.
Estou convencido que esta é uma posição política das chefias.
Agradeço a oportunidade para este esclarecimento.
Um cordial abraço,
mário

Anónimo disse...

Caro Tiago Pais,

Eu sou um feroz adepto da iniciativa privada, como já tive oportunidade de trocar umas ideias com o José Amoreira sobre o tema.

Tal como as entidades locais conseguem ter mais sensibilidade para as questões locais, também acho que quem conhece melhor a Serra tem maior sensibilidade para os aspectos que fazem a diferenciação no desenvolvimento do turismo de natureza. É nesse sentido que considero importante que haja empreendedores na Serra, como forma de quebrar o “ciclo vicioso” em que se encontra o desenvolvimento desse turismo. Já existem indícios de que algo estar a mudar, mas é necessário mais.

Pela sua descrição, é evidente que existem relações “perigosas” entre o Estado e alguns interesses / interessados da região. Caso a intervenção do Estado seja para perpetuar esses interesses, então mais vale a pena não fazer nada. No entanto, caso o Estado intervenha após o início de uma dinâmica acentuada de turismo de natureza, julgo a zona da Serra da Estrela ficaria a ganhar.

Nesse sentido, seria bom as entidades locais percebessem que agora é a altura para se unirem, pois após o Estado intervir, de alguma forma parte dos lucros não irão ficar na região.


Cumprimentos,

João Coxo

TPais disse...

Caro Mário,
""Também considera este instituto que a actividade cinegética é conciliável com as acções de cariz educacional e científico realizadas pela Fundação Trepadeira Azul."."

Era exactamente a este tipo de afirmações que me referia. É uma afirmação válida mas tem de ser justificada. Porque considera o ICNB que isto é assim? Julgo que o ICNB e a politica de conservação da natureza só tinham a ganhar se isso fosse feito, independemente de concordarmos ou não.

As boas relações não devem, aliás não podem, impedir que façamos as criticas devidas e fundamentadas. Não acredito que as chefias fora do PNSE tenham grande influencia no estado das coisas ou na tomada de algumas decisões. Que há bons tecnicos há, como em todo lado mas ainda faltam muitos tecnicos com vontade de fazer mudar as coisas, assim como muitos cidadãos.
Cump
TiagoP

trepadeira disse...

Claro que assim deve ser.O povo diz"ainda não chagamos à Madeira",teremos de passar a dizer,"parece que estamos todos na Madeira".
Aquela afirmação-opinião é emitida à pressa e à posteriori,perante a nossa contestação técnica da criação da tal zona de caça MUNICIPAL.
A senhora vice-presidente do ICNB,ao que sabemos,não ouviu ninguém,não recolheu qualquer parecer.Emitiu uma mera opinião não fundamentada técnicamente e,mesmo assim,vinculativa do instituto.
Têm-nos sido dadas a entender pressões sobre os técnicos e até a entrega selectiva de processos para parecer.
De tudo um pouco.
Logo que o processo possa ser divulgado,fá-lo-emos na integra.Tem coisas interessantes e significativas.
Um abraço,
mário

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!