Acabo de chegar de uma semana nos Picos da Europa (Astúrias, Espanha), onde não ia há quase vinte anos. O que lá vi e o que lá fiz vai alimentar alguns posts aqui no "Cântaro".
Como não quero dar a entender que a serra da Estrela é como os Picos da Europa (ao contrário de outros que afirmam que ela pode concorrer com os Alpes ou os Pirinéus, num segmento — Neve e esqui — para que os Alpes e os Pirinéus têm condições absolutamente ímpares), com este post à laia de preâmbulo pretendo mostrar quais as diferenças físicas entre as duas cordilheiras. Nos posts que se seguirem abordarei as diferenças (bem maiores) na forma como elas são tratadas e aproveitadas.
Os Picos da Europa começam a cerca de cem metros de altitude e sobem até pouco mais que 2600 m. Ou seja, têm seiscentos metros a mais por cima e quinhentos metros a mais por baixo do que a Estrela, que começa a seiscentos metros (aqui do lado da Covilhã) e sobe até aos dois mil. São montanhas mais recentes, logo, mais escarpadas. São constituídas de rocha calcárea, em vez de granito. Apresentam precipícios impressionantes, paisagens de cortar a respiração. São um pequeno paraíso para montanhistas e escaladores. Os espanhóis marcam frequentemente o início da actividade montanheira no seu país com a primeira escalada do Picu Urrielo (também conhecido como Naranjo de Bulnes), um enorme promontório rochoso mais ou menos equivalente (em altura) a três Cântaros Magros, mas muito mais vertical.
Os Picos da Europa estão a vinte quilómetros do mar. É perfeitamente possível escalar ou caminhar em ambiente alpino de manhã e fazer praia à tarde. O clima é muito húmido e todas as zonas de altitude intermédia estão cobertas com bosques atlânticos (castanheiro, carvalho, faia, avelaneira, etc.), prados para o pastoreio ou campos cultivados. Por estar mais a norte e ter maior altitude que a Estrela, neva nos Picos muito mais frequentemente e com muito maior intensidade do que por cá.
Os Picos da Europa são muito, muito diferentes da serra da Estrela. Não faz sentido tentar copiar as realidades asturianas para a Estrela, tal como não faz sentido tentar copiar as alpinas ou as pirenaicas, como alguns afirmam que pretendem fazer. O que funciona lá, o que lá é viável, pode perfeitamente falhar na serra da Estrela. Mesmo assim, entendo que poderíamos aprender imenso com a forma como os asturianos entendem o turismo de montanha e com a forma como o desenvolveram. Tentarei demonstrá-lo nos próximos dias.
5 comentários:
Caro, Costumo ler o seu blogue, pois é uma forma de me manter informado sobre o que se passa na Serra da Estrela, apesar de nem sempre concordar com as suas opiniões (algumas são verdadeiros tiros ao lado, especialmente quando o tema não é a Serra), e achei curioso pois esta semana também estive nos Picos da Europa. Reparei que para aceder a Lagos, logo após Covadonga, só era possível por Autocarro, existindo grandes parques de estacionamento na periferia de Covadonga. Ora, não seria essa uma interessante solução para a Serra? Criar parques em zona periféricas e apenas permitir o acesso ao topo por autocarros (pagos, como é obvio)!!!
Caro anónimo, viva!
O assunto do Cântaro Zangado é a serra da Estrela. Eu sou o autor principal (apenas porque o TPais tem coisas melhores para fazer), logo, muito de mim aparece no blog. Mas o assunto do blog não é o José Amoreira (aliás, ljma), nem as suas opiniões sobre política autárquica, nacional ou internacional, as suas preferências musicais ou literárias, etc. Por isso tento evitar falar de outros assuntos e tento ser o mais contido possível quando o faço.
Mas, mesmo quando falo sobre a serra (e quase sempre é esse o assunto), não pretendo ser infalível. As minhas opiniões são apenas as minhas opiniões e o anónimo tem tanto direito a considerá-las tiros ao lado como outro qualquer a considerá-las a Verdade Revelada. Seja como for, com apreciações como estas, sem considerações adicionais, não se vai longe. Assim, esteja à vontade para contestar aqui no blog tudo aquilo com que não concordar, sobre a serra ou sobre seja o que for.
Sobre os acessos à zona dos lagos de Covadonga (outro exemplo semelhante é o dos acessos a Puente Poncebos, ponto de partida para a Ruta del Cares), farei alguns comentários mais tarde, em posts a eles dedicados. Mas adianto desde já que concordo consigo.
Saudações
José Amoreira
Caro José Amoreira, Por acaso também vivi a situação de Poncebos - fui obrigado (literalmente) a deixar o carro no parque e a apanhar o autocarro (fui efectuar a rota Poncebos-Bulnes-Poncebos), mas ai a situação foi diferente de Lagos, pois só quando a capacidade de estacionamento junto ao funicular esgotou é que foi "activado" o parque periférico.
Acho que é uma questão de tempo até quem de direito (e eu de politica não percebo nada) perceber que a Serra poderá ser mais vantajoso para o desenvolvimento turístico regional que uma humilde estância no Inverno (veja-se o caso da Cantábria).
Relativamente a comentários, o balanço que faço do seu blog é positivo, apesar de alguns aspectos menos positivos a que já me referi.
Cumprimentos Serranos,
Caro José Amoreira, Por acaso também vivi a situação de Poncebos - fui obrigado (literalmente) a deixar o carro no parque e a apanhar o autocarro (fui efectuar a rota Poncebos-Bulnes-Poncebos), mas ai a situação foi diferente de Lagos, pois só quando a capacidade de estacionamento junto ao funicular esgotou é que foi "activado" o parque periférico.
Acho que é uma questão de tempo até que quem de direito (e eu de politica não percebo nada) perceba que a Serra poderá ter mais vantagens para o desenvolvimento turístico regional, que apenas uma humilde estância no Inverno (veja-se o caso das Asturias).
Relativamente a comentários, o balanço que faço do seu blog é positivo, apesar de alguns aspectos menos positivos a que já me referi.
Cumprimentos Serranos,
Olá!
Bem, essa diferença entre as situações dos Lagos e a de Poncebos é apenas um pormenor, parece-me. Cá por mim, ficaria satisfeito com qualquer das possibilidades.
Mas já agora, segundo me informaram (em Arenas de Cabrales), a subida de carro até aos lagos é autorizada até às oito da manhã ou a partir das sete da tarde. Só é proibido o trânsito de automóveis durante o dia. Não cheguei a verificar esta informação porque, desta vez, acabei por não ir aos lagos. Fica para a próxima!
Já agora ainda, aconteceu-me o mesmo que a si em Poncebos. Da primeira vez que subi, quando fui fazer a ruta del Cares, obrigaram-me também a estacionar no parque periférico (mas fiz o caminho até Poncebos a pé). Da segunda vez, quando fui a Bulnes, deixei o carro em Arenas de Cabrales e subi até Poncebos no autocarro. Foi muito melhor.
Cumprimentos!
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