Escrevo neste blogue porque entendo que devíamos proteger, com unhas e dentes, tudo o que na serra é especial, único, tudo o que nela transcende o ordinário, mas constato todos os dias que não o temos feito. Porque me ofende pessoalmente cada medida que rouba beleza e mistério à serra. Cada "melhoramento" ou "requalificação" que, acomodando-a ao nosso comodismo, à nossa pequenez, ao nosso provincianismo e à nossa ganância, a vulgariza e a rebaixa, lhe tira valor.
[E se tem sido roubado valor à serra, caramba! As Penhas da Saúde, a Torre, estas nódoas vergonhosas são as mais evidentes. Mas são as únicas?]
Repito, entendo que devíamos proteger, com unhas e dentes, tudo o que na serra é especial, único, tudo o que nela transcende o ordinário. Porque todos teríamos mais a ganhar. E porque, a bem dizer, o que é único e extraordinário na serra não é assim tanta coisa... A nossa serra é pequena, é frágil.
[Não é, claramente, como os Alpes ou os Pirinéus.]
É por ter isto em mente que escrevo neste blogue.
Roubei indecentemente o título deste post de uma pequena colectânea de ensaios de George Orwell, recentemente publicada pela Antígona. Passe a presunção, recomendo-a vivamente.
5 comentários:
A singularidade é sempre fascinante enquanto a homogeneidade e o ordinário são para mim aborrecidos e sem capacidade de atrair. Se isto for de senso comum tirem as vossas ilações sobre as vontades requalificadores das entidades locais. Se não for de senso comum então estamos no caminho certo...Curiosamente este caminho parece não satisfazer ninguém! Julgo que a indefinição nas expectativas que cada um põe neste paque natural é parte do problema em relação aos conflitos actuais existentes.
Seja como for saúdo todos aqueles que defendem com unhas e dentes aquilo que pensam ser o melhor para o futuro desta região. Saúdo aqueles que vão mais além da sua vida rotineira diária e que dispõem do seu tempo em causas universais e não meramente pessoais. E aqueles que não concordam com as opiniões aqui expressas ou mesmo noutros locais não pensem por um minuto que nos conseguem calar ou que isso será um beneficio para as suas pretensões! Se não concordam com o que "houvem" defendam o vosso ponto de vista com unhas e dentes! Mas não nos tentem calar!
Parabens Zé por este post tão oportuno.
Obrigado, Tiago.
Pois, para uma conversa ser produtiva, o primeiro é que as posições em debate sejam expressas de forma clara e franca.
O que mais me chateia não é que outros não partilhem as minhas opiniões, mas antes que tentem baralhar e esconder o que verdadeiramente pensam. Que digam coisas como (e já ouvimos de tudo nestes quase três anos): "Não sou a favor de que se rasguem novas estradas indiscriminadamente na serra, mas tenho que dizer que a estrada verde / estrada de S. Bento / estrada Unhais - Nave / Cortes do Meio - Penhas da Saúde (e um longo etc) são fundamentais!", ou "ninguém é mais defensor do ambiente que eu, mas não podemos hipotecar o desenvolvimento ao ambiente", ou ainda a pérola do presidente da CM da Covilhã: "antes das florinhas estão as pessoas".
(É que a protecção ambiental não se opõe ao desenvolvimento, antes é uma premissa para um desenvolvimento real; e quando o presidente da CMC disse que "antes das florinhas estão as pessoas" pretendia, de facto, beneficiar um muito particular e pequeno grupo de pessoas [os proprietários das casas de génese ilegal das Penhas da Saúde], à custa da das florinhas e da restante população.)
O que me incomoda são as empenhadas declarações de muy nobres princípios genéricos e atitudes abstractas, prontinhas a serem esquecidos em toda e qualquer situação concreta que se coloca. Ou seja, a bem dizer, o trocatintismo, tão generalizado entre algumas personalidades com cargos relevantes.
O que realmente me incomoda, dito de outra forma, é a demagogia. Principalmente a mais costumeira, insultuosamente bacoca.
Abraço!
Eu creio que, mesmo não tendo a oportunidade de ajudar de uma forma activa e no terreno, o simples acto de escrever pode inspirar opiniões de forma a conduzir à mudança.
Paulo Roxo
José,
Obrigado por escreveres em nosso nome. Agradecimento extensivo ao Tiago.
Paulo, eu também faço pouco no terreno (e tendo a fazer menos ainda, devo reconhecer). Faz-se o que se pode...
Já agora, aproveito para dizer que ainda bem que regressaram inteiros do Gasherbrum. Acompanhei com atenção (e inveja, e medo, e mais inveja, e mais medo) os vossos relatos.
Pedro, eu é que agradeço as tuas palavras (mais uma vez!).
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