Há dias, o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) inaugurou um Centro de Interpretação da Natureza num edifício da Torre. A RTP1 fez a seguinte reportagem do evento (tirei o link do blog Estrela no seu melhor. Obrigado, Cova Juliana!):
Fico contente por este edifício ter escapado à transformação num hotel, restaurante, observatório panorâmico, ponto de apoio para a venda de forfaits ou de aluguer de material da estância de esqui e por, em vez disso, estar a ser utilizado para dar visibilidade ao PNSE e para a divulgação da verdadeira mais valia da serra da Estrela, os seus valores naturais.
Por outro lado, noto que a Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE) inaugurou há alguns anos na mesma zona, num edifício do mesmo conjunto, um posto de atendimento a visitantes. Encontra-se fechado(1), há muito tempo, suponho que por falta de meios para o manter aberto. O PNSE terá capacidade para fazer viver esta aposta (e para tal é preciso algo mais do que as obras no edifício e a presença de um funcionário todos os dias do ano, das nove às dezassete)? Espero que sim.
Por outro lado ainda, custa-me a compreender a lógica subjacente a esta aposta. Maria da Paz Moura afirma, a 51 s do início da reportagem, o seguinte:
No fundo, é um local onde se faz uma primeira abordagem de sensibilização da natureza, mas que depois faz uma dispersão em termos territoriais e que permite encaminhar todos os visitantes (que são mais de dois milhões e meio por ano, que nos visitam) para depois outros locais da serra da Estrela com igual ou superior interesse àquele que é a Torre.
Esta lógica do novo Centro de Interpretação como local de primeira abordagem a uma visita ao PNSE fica ainda melhor ilustrada com o comentário final do jornalista:
[...] abriu agora, com este centro de interpretação, uma porta de entrada que mostra as maravilhas da montanha mais alta de Portugal Continental.
O que me custa a perceber é se faz sentido organizar a dispersão dos visitantes(2) a partir do próprio coração geográfico e rodoviário da área protegida. Recordo que (apesar de todas aparências) a zona da Torre é o centro do PNSE, integra a Reserva Biogenética, a Rede Natura e dela escorrem linhas de água que alimentam habitats muito próximos, protegidos (e bem!) pela convenção Ramsar. É ali que faz sentido receber os visitantes numa primeira abordagem, é a partir dali que faz sentido organizar as visitas?
Faz sentido abrir uma porta de entrada para a nossa casa, bem no centro da sala de jantar?
Outros assuntos que vieram a lume com esta notícia foram os do condicionamento do tráfego na Torre, a construção de um teleférico e a instalação de parquímetros para o estacionamento. Talvez mais tarde os comente mais detalhadamente. Para já, refiro apenas que me parece que estes três assuntos, ao contrário do que é sugerido pela notícia, não estão necessariamente relacionados. Não é preciso teleférico nem parquímetros para condicionar o tráfego e a existência de teleférico e parquímetros não se traduz, por si só, num condicionamento do tráfego. Para condicionar o tráfego o que é preciso é efectivamente condicioná-lo, ou seja, não permitir o acesso de viaturas para além de um nível de afluência considerado máximo. Com ou sem teleféricos, com ou sem parquímetros.
Mas, voltando agora à lógica da "porta de entrada", o que realmente considero muito difícil de entender é que se planeie a *primeira* abordagem aos visitantes num local onde, assim se afirma, se pretende o futuro condicionamento do estacionamento e a limitação do tráfego. Isso é que não percebo, mesmo.
Outro assunto ainda de que se falou a este propósito foi o dos esgotos a céu aberto na Torre. Mas, sobre isso, já nem sei o que diga...
(1) Correcção: estive hoje (10 de Agosto) na Torre, e notei que o posto de atendimento da RTSE se encontrava aberto. No entanto, já me aconteceu dar com ele fechado, pelo que pensei que fosse esse o estado permanente. Enganei-me. Mas acho que a dúvida que levantei (sobre se o PNSE conseguirá fazer viver este centro) se justifica.
(2) E serão mesmo dois milhões e meio de vistantes por ano? Gostava de conhecer os estudos que sustentam esta afirmação. Até lá, duvido de estimativas deste tipo, e não sou o único.
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