Foi por mero acaso que me deparei com este texto do cronista Tomaz Dentinho do jornal online "A União", da ilha de Angra. Decidi transcrever a sua crónica do passado dia 22 de Junho por um lado pela pequena referência que faz à Serra da Estrela e por outro por abordar especificamente a questão do Turismo num local (os Açores) cuja subsistencia está intimamente ligada a esta actividade económica.
Este Cronista faz uma pequena análise critica sobre o que poderão ser as linhas estratégicas para o desenvolvimento do turismo nos Açores. Por agora limito-me a transcrever o seu texto:
"É isso mesmo que fomos assistindo na Serra da Estrela e nos Alpes, nos Himalaias e nas Montanhas Rochosas. Se não tivermos cuidado é isso que acontecerá em São Miguel e em outros locais bonitos dos Açores que facilmente se degradarão se não houver desígnio.
Há várias soluções para evitar a prostituição dos sítios.
A primeira dessas soluções é evitar qualquer contacto com o “mal” turístico, impedindo a construção de alojamentos e dificultando as acessibilidades aos pontos mais bonitos. Foi essa a fama com que ficou Mota Amaral quando não tomou grandes medidas para promover o turismo nas Ilhas dos Açores.
A segunda solução é concentrar o turismo de massas em determinados locais bem confinados e libertar os sítios mais bonitos para aqueles que têm capacidade para neles viverem, ou porque lá trabalham ou porque aí têm capacidade para comprar as poucas casas disponíveis e autorizadas. Foi essa solução que ouvi defender há uns anos num Congresso sobre Turismo por um espanhol. Turismo, para ele, era turismo de massas concentrado em determinados locais como Benidorm ou Torremolinos, para que o restante espaço não seja ocupado por betão e por estradas.
A terceira solução para evitar a prostituição dos sítios é deixar que as actividades de trabalho e lazer dos residentes sejam marginalmente partilhadas por visitantes. 15% de visitantes e 85% de residentes é o máximo de capacidade de carga para que não haja adulteração das actividades de trabalho e de lazer dos residentes, conforme nos reporta um grego que fez um estudo sobre diversas ilhas do Mar Egeu. É isso que se faz em Paris, em Londres, Nova Iorque e um pouco em Lisboa, onde os residentes pouco se importam com os turistas marginais que vão passeando entre o comércio e os monumentos.
Há ainda a possibilidade de assumirmos uma sociedade pendular a nível mais global, um pouco como havia por aqui, entre as Fajãs de São Jorge para passar o Inverno naquela ilha, e as Adegas do Pico para passar o Verão na ilha montanha.
A primeira solução não é defensável nos tempos que correm. Até porque quanto mais tentarmos proteger um local da invasão turística mais ele será procurado por esses novos bárbaros. Também porque, muitas vezes, a única forma de manter algumas pessoas e actividades em espaço rural é através de uma aposta, mesmo que marginal, na actividade turística.
A segunda solução é pragmática e de certa forma aplicável aos Açores. Deixemos concentrar o turismo de massas em Ponta Delgada e - porque não - no Faial, para que as outras ilhas possam albergar os que têm capacidade para neles viverem, porque lá trabalham ou porque aí têm capacidade para comprar as poucas casas disponíveis e autorizadas.
A terceira solução consubstancia esta faceta complementar do turismo de massas. Neste caso a estratégia é apostar noutras actividades geradoras de riqueza, como o vinho e a pesca na Graciosa, o queijo em São Jorge, a carne e o vinho no Pico, os touros, a logística, o queijo e a educação na Terceira. Depois chegarão alguns turistas mas fundamentalmente aqueles que gostam de peixe, de queijo, de carne, de vinho, de touros, de educação e de logística.
A quarta solução só se entende para os migrantes. No fundo pessoas que ainda se encontram enraizadas nos locais para onde gostam de viajar durante as férias. Para isso não é preciso haver grandes políticas pois a vinda de pessoas é assegurada pelos seus familiares e amigos. Basta que possibilitem passagens baratas e poucos entraves aos vistos, e toda a gente gosta de visitar para gerir a saudade.
Não há dúvida que na terceira e quarta solução a Terceira é a ilha mais animada conforme nos reporta Sandro Paim."
Fonte original do texto aqui.
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