segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Coisas de ignorantes mal intencionados

[É] "um erro primário e grosseiro" a eventual construção de infraestruturas em betão, como o casino ou o Palácio de Congressos nas Penhas da Saúde, projectos que "além de desajustados do meio, estão também desligados das necessidades dos praticantes de desportos de Natureza e Inverno"
O "monopólio de exploração turística e a sobreposição dos interesses comerciais à noção de sustentabilidade" é um dos aspectos mais criticáveis no turismo da Serra da Estrela.

Estas opiniões (com as quais não posso concordar mais) pertencem a Mário Carvalho, antigo professor de esqui na estância de Sierra Nevada, antigo vice-campeão nacional de esqui, actual docente do Instituto Politécnico de Leiria, e são apoiadas no estudo que fez para a sua Dissertação de Mestrado, apresentada, defendida (e aprovada) no Instituto Superior Técnico.

Soube disto pelo Ondas3, que aponta para uma notícia no Expresso com mais detalhes. Em particular, com os detalhes da reacção dos responsáveis pelo turismo que temos. Artur Costa Pais, administrador da empresa concessionária exclusiva (o monopólio a que se referia Mário Carvalho) do turismo e dos desportos na Serra da Estrela, lamenta que haja "cada vez mais gente mal intencionada" no turismo na região; Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo), considera que este trabalho "demonstra uma profunda ignorância em relação à realidade".

Penso que para terem alguma relevância neste contexto, as referências às más intenções deveriam ser materializadas com algo de palpável. Assim, são apenas paleio. Quanto à opinião de Jorge Patrão sobre a "profunda ignorância" demonstrada por esta tese de mestrado, ela vale o que vale. Podemos comparar as habilitações (inexistentes) e currículo de Jorge Patrão com as do mestrando, as do seu orientador e as dos elementos do jurí que avaliaram o trabalho. Cada um é livre de fazer a opção que entender mas por mim, no que toca a avaliar ignorâncias, fio-me mais no discernimento, experiência e currículo dos académicos...

Ah!, Estudos para quê? Teses para quê? Isso é para gente mal intencionada e ignorante. Gente (que horror!) com habilitações, que já viu mundo. Nós não, nós somos optimistas, temos "requalidade" e dinamismo! O que precisamos é de mais milhões, mais betão, mais ferragens, mais asfalto e, de vez em quando, só para não parecer muito mal, uma entrevistazita num jornal amigo, para também podermos afirmar que "a Serra não é só neve".

4 comentários:

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

No "Interior" também saiu uma referência a esta tese; também a mim o que mais me impressionou foi a arrogância do Sr. Artur Costa Pais, esse grande "especialista em turismo". Uma tão grande experiência que em Dezembro de 2006, num directo da RTP1 a partir da Torre, dizia sonhar com 40 km (!!!) de pistas esquiáveis na Serra da Estrela (40 km numa serra com 1900 m no Sul da Europa!); e ainda ontem, novamente na RTP1, defendia o casino na Serra da Estrela por estar a hora e meia de Badajoz (o que é um excelente argumento para se fazer um casino numa Área Protegida e porque Badajoz está a pelo menos duas horas de viagem!...Já agora, esse mesmo argumento poderia justificar a construção de um "Corte Inglés"?!).
Mas também eu seria arrogante se tivesse um monopólio daqueles que só deverão ter paralelo em "democracias liberais e de economia aberta ao exterior" como a Coreia do Norte!

Em relação a Jorge Patrão vem, mais uma vez no "Notícias da Covilhã", pedir mais uns milhões ao Estado para, entre outras coisas, mais umas centenas de casas nas Penhas da Saúde; sítio que como bem sabemos tem como principal problema ser um autêntico "deserto urbanístico".

E eu que pensava que os problemas da serra tinham precisamente a ver com o impacto visual e ambiental (ai aqueles esgotos por tratar!...) das construções de génese ilegal das Penhas da Saúde, dos esgotos a céu aberto na Torre, daqueles mamarrachos da Torre (incluindo o inenarrável "centro comercial") e "aquilo" que existe nos Piornos; pensei que o preocuparia Jorge Patrão era o que se anda a fazer no Covão d'Ametade para promover o tal "turismo de garrafão"; pensei que o preocupasse os incêndios florestais que devassam a paisagem serrana; que o preocupasse a profusão de estradas que abrem feridas na paisagem e permitem que os turistas visitem de passagem e sem parar todos os pontos de interesse da Serra (aumentando ainda a possibilidade de aumentar a área para espalhar o lixo); pensei que preocupasse os engarrafamentos na Torre e as periódicas evacuações forçadas quando começa a nevar com intensidade; ou mesmo que ficasse triste com a lixeira em que se transformou a Torre (já disse que por lá corre um esgoto a céu aberto há mais de um ano ?!).

Não...a solução é mais dinheiro, mais betão e, não sejamos modestos, mais alcatrão...para quando essa "avenida verde" a ligar a Sé da Guarda à Torre? Somos grandes!...

Anónimo disse...

Um exemplo: o Regulamento do Plano de Pormenor das Penhas da Saúde Sul, que autoriza construções como as bungalows, apenas foi publicado a 22 de janeiro de 2008, quatro ou cinco anos após a conclusão do empreendimento. http://dre.pt/pdf2sdip/2008/01/015000000/0307703078.pdf

Anónimo disse...

Olá

é na verdade com grande satisfação que vejo e acredito que a tese da qual sou autor ter ajudado a reforçar determinados "pensamentos" e suscitar importantes preocupações nas gentes serranas. A Sustentabilidade não pode ser uma palavra vã, aliás a sustentabilidade deve começar por satisfazer as gentes locais, só assim se poderá falar numa lógica de sustentabilidade onde, "qual pescadinha de rabo na boca" acabará por beneficiar também os turistas.

Se Vossas Exas estiverem interessados na referida tese poderei enviá-la em PDF.

abraço

Mário Carvalho

Anónimo disse...

o meu endereço é:

mcarvalho@estm.ipleiria.pt

att

Mário Carvalho

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!