sexta-feira, janeiro 25, 2008

Uma no cravo, a outra na ferradura

O Presidente da Câmara municipal de Seia, Eduardo Brito, em entrevista ao Portas da Estrela deu mostras de estar a ultrapassar uma certa forma de estar e discursar muito usual aqui na zona da Serra da Estrela (ou, pelo menos, aqui na Covilhã). Veja-se como se refere à possibilidade da construção de uma pista de esqui com neve sintética:

Pergunta: Está a querer dizer que substituiu a Pista de Esqui Sintética, anunciada então como a maior da Europa, pela construção de um campo de golfe?
Resposta: Não. Percebi, e não tenho problema nenhum em dizê-lo, que era [a pista] um investimento que tinha alguns problemas para se sustentar. Percebi também que é preciso juntar a estes investimentos uma componente privada, porque o Concelho de Seia do que mais precisa neste momento é de investimento privado.

P: Não tinha num parceiro privado para construir a Pista?
R: Concretamente não. Houve várias conversas com muita gente nesse sentido mas começou a reconhecer-se alguma debilidade em termos de custos da iniciativa, e também aprendemos com a pista de Manteigas. Também não deixámos de aprender com algumas situações. E, portanto, percebemos sobretudo que o nosso Concelho, depois de o Governo fazer as acessibilidades, do que mais precisa é de investimento privado.

Ou seja, parece ter percebido que nem tudo o que implique investimento (público, entenda-se) de milhões de euros tem pernas para andar. Demonstra que analisa lucidamente algumas situações e que aprende com os erros (com os dos outros pelo menos): como entender de outra forma as frases "mas começou a reconhecer-se alguma debilidade em termos de custos da iniciativa, e também aprendemos com a pista de Manteigas. Também não deixámos de aprender com algumas situações"?

Infelizmente, estraga o quadro com as respostas que dá às questões imediatamente a seguir:

P: Está a abandonar a vertente da neve para abrir o território a outras vertentes?
R: De maneira nenhuma. Está neste momento um pedido de viabilidade na Câmara para o prolongamento das pistas de esqui, que estão no nosso Concelho. Pelo contrário, a neve é um elemento estratégico.

O "De maneira nenhuma" refere-se, imagino, à possibilidade de se estar a abandonar a "vertente da neve". Mas também se pode entender como a resposta à segunda parte da pergunta, "para abrir o território a outras vertentes?" Não o creio, até porque, se alguma câmara da região tem feito alguma coisa por essas outras vertentes, é a de Seia, com o seu Centro de Interpretação da Serra da Estrela.
Seja como for, esta resposta não me agrada. Pensava que já parecia mal a afirmação pública da importância estratégica da neve. Afirmá-lo assim, numa montanha baixa, quente, meridional e atlântica como a nossa, onde quase não neva... Enfim.
Para onde se vão prolongar as pistas de esqui? Para os (por ora) fantásticos Covões de Loriga, mais abaixo, mais abrigados, mais quentes com menos neve? E com mais pistas a atrair mais gente (quando funcionarem) não serão necessários mais estacionamentos, mais cafés, mais restaurantes? E todo este incremento de tráfego e de visitantes não irá contribuir para ainda mais lixo na zona das pistas? E todos estes visitantes de um ou, com sorte, dois dias, que não param em Seia ou no Sabugueiro (ou na Covilhã) mais do que o estrictamente necessário, são bons para Seia? Tudo isto é bom para a Serra da Estrela? Tem sido bom para as suas populações? Tem sido bom para o Turismo?!

1 comentário:

Cova Juliana disse...

"também aprendemos com a pista de Manteigas"

E porque é que não aprendem com os bons exemplos lá de fora?

Será que se tem que estar sempre a olhar é para o que não deu?
Será que não se podia olhar para o que dá?

Vejam os bons exemplos de oferta turistica de montanha (sem neve) lá fora e importem-nos! Isso sim era reconhecer aprender...

ps: agora trocar uma pista de esqui, por um campo de golfe... enfim. tente passar ali pelos lados de Belmonte e aprenda também algo de lá...

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!