terça-feira, janeiro 08, 2008

Eólicas, ambiente e isso tudo...

Parque eólico da Alvoaça, serra da Estrela.
(Imagem "roubada" no blogue Oceano das Palavras.)

Pedro Almeida Vieira, escritor e jornalista, colocou no seu blog Reportagens Ambientais uma entrevista com o Prof. Delgado Domingos, jubilado do Instituto Superior Técnico, da qual quero salientar o seguinte excerto (mas recomendo vivamente a leitura integral):

Pergunta – Em 2007 falou-se bastante em energia em Portugal. Ao longo de 2008 está prevista a aprovação do Plano Nacional de Barragens e será anunciado o resultado do concurso para a ampliação dos parques eólicos. Será 2008 o ano da energia?
Resposta – Talvez sim, mas espero que não seja pelas más razões. Em Portugal estamos a viver numa realidade virtual no campo da produção energética. E acho serem necessárias algumas advertências muito sérias. Por exemplo, penso que não se devem espalhar parques eólicos sem nexo. Eu sou defensor da energia eólica, mas não de qualquer maneira, sem disciplina. E aquilo a que estamos a assistir é um negócio puramente financeiro, só com vista para o lucro imediato. Em Portugal, os produtores de energia eólica beneficiam de uma situação económica altamente favorável, protegida e sem contrapartidas. E depois não existem estudos aprofundados do potencial eólico e das localizações mais adequadas, que salvaguardem algumas serras e apostem na hipótese dos parques off-shore.

P – O concurso está feito, de facto, de modo esquisito: os candidatos propõem locais e o que for vencedor quase automaticamente terá aprovadas todas as localizações, independentemente dos impactes…
R – Esse concurso foi feito para dar as regalias aos grandes monopólios. A energia eólica, que tem grandes méritos se for descentralizada e feita numa escala disseminada, acaba por ser concebida em concentrações, sem contrapartidas. A energia eólica é paga em Portugal de um forma exageradamente favorável às empresas, pois tem prioridade absoluta de entrada na rede e garantia de compra pela REN sem qualquer obrigatoriedade de previsibilidade do fornecimento dessa energia e sem penalizações previstas. Isto é chocante, porque afecta todo o sistema eléctrico nacional, obrigando a ter centrais em stand-by, com custos enormes. Nos países em que a eólica não é um puro negócio financeiro, o preço da electricidade eólica está ligado às previsões de produção e do respectivo cumprimento. Isto estimula o sistema de previsão e a gestão do sistema eléctrico. Faz-se assim na Espanha e nos países nórdicos, por exemplo.

Se o prof. Delgado Domingos tem razão, a instalação desenfreada de eólicas nas cristas das regiões centro e norte, mesmo em áreas protegidas, deve mais a operações financeiras e aproveitamento de apoios e subsídios (directos ou indirectos) estatais, do que a verdadeiras preocupações ambientais, ao protocolo de Quioto, ao interesse nacional ou mesmo à expectativa a longo prazo de lucros com a venda de energia. Será ou não verdade. Mas, se o for, não seria propriamente nada que nos espantasse por aí além. Seria até mais um daqueles casos tipicamente típicos, quer-me parecer...

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro José,

de facto tem se assistido a uma corrida desenfreada à criação de parques eólicos. Está claro que o que move os nossos autarcas, são os interesses económicos. Repare-se neste exemplo: http://fotos.sapo.pt/oindependente/pic/0006zt6w (In Blog Cortes do Meio) o Baldio de Cortes do Meio pretende, juntamente com uma empresa do sector, instalar um Parque Eólico em pleno coração do Parque Natural da Serra da Estrela, nos sítios da Lomba, Seixinhos Brancos e Pedra da Mesa. O que os move? Eis o que move os responsáveis do Baldio: (citação dos responsáveis do Baldio de Cortes do Meio) "Este facto poderá trazer contrapartidas financeiras significativas para o baldio." Contrapartidas financeiras é o motor que os move. Quem conhece o local de implantação (como é o caso do amigo José, estou certo) sabe que o impacte paisagístico e ambiental será desastroso. Mas isso preocupa o Baldio? Não! Money, money, é o único interesse. A população foi consultada? Não! O baldio não representa nem os compartes da freguesia nem o Estado, beneficiando da apatia quer de um quer de outro. Muito sinceramente preocupa-me que mais de 3.000 hectares de território protegido esteja na mão de indivíduos sem competência para gerirem uma área desta natureza.Estejamos alertas.

Cumprimentos caro José.

Miguel.

Anónimo disse...

Embora não me reveja no Partido em causa, o texto é bastante informativo.

http://www.pcp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=29694&Itemid=390

Anónimo disse...

Deixo aqui o link para este user do YouTube:
http://www.youtube.com/profile?user=joaopauloforte
Alguns dos videos são exactamente sobre um futuro parque eólico na Serra de Alvaiázere e retratam a tal situação de: "a energia alternativa não me interessa, eu quero é saber quanto pagam pelo aluguer do terreno".

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!