sábado, dezembro 01, 2007

O rumo certo, o do costume

O Máfia da Cova, citando uma notícia publicada pel'O Interior desta semana, informa-nos da recente inauguração da nova sede da Federação Portuguesa de Esqui, um evento que contou com a presença de Laurentino Dias, secretário de Estado da Juventude e do Desporto e de Carlos Pinto, presidente da Câmara Municipal da Covilhã.

Pode ler-se na notícia que a "ocasião foi aproveitada por Carlos Pinto para voltar a falar do projecto da criação de uma zona de jogo na Serra da Estrela em complemento aos desportos de Inverno", pois o "edil defendeu que esta seria a «forma de oferecer lazer associado à neve, financiar todos estes projectos e torná-los realidade [...]»"

Mais uma vez, aparece reforçada e apoiada por todos a tese de que o futuro do turismo na Serra da Estrela passa pela neve, apenas pela neve.

No Gerês há várias empresas (competindo umas com as outras) oferecendo turismo de natureza, passeios a pé, a cavalo, BTT, canoagem, escalada. Há turistas todo o ano, com estadias de dias e semanas. Em certas alturas, é preciso organizar com antecedência certas actividades (passeios a cavalo, por exemplo), tamanha é a procura. Aqui, temos a Turistrela e a neve (esta cada vez menos), e os milhares de visitantes que, em certos Sábados e Domingos, passam metade do dia, atascados no trânsito, tentando chegar com os seus carros à Torre e a outra metade, no trânsito atascados, tentando de lá sair, no regresso a suas casas. Nas poucas horas que permanecem na serra, deixam toneladas de lixo que escorrem encosta abaixo, entopem linhas de água, enojam e envergonham quem visita a serra com olhos para a ver. E mantemos e ampliamos continuamente uma deprimente estânciazinha de esqui onde a neve (quando a há) não presta, porque derrete durante a tarde e congela durante a noite, sendo vidro grosso de manhãzinha e papa molhada ao meio dia.

E, no entanto, é nisto que continuamos. Há pelo menos quarenta anos que se afirma que devemos desenvolver o turismo de neve. Que podemos concorrer com as estâncias dos Pirinéus e dos Alpes. Que é preciso mais animação para a animação da neve.

Continuamos no rumo certo, continuamos de parabéns. Como sempre. Como se vê. Viva nós!

E as perspectivas para o futuro, neste actual panorama de alterações climáticas? Recordo que ainda no ano passado, Turistrela e Região de Turismo afirmaram, que não, que o aquecimento global não se faria sentir aqui, que de dez em dez anos vem um ano mau, e que há agora tecnologia para fabricar neve mesmo com altas temperaturas.
Noto que parece ter havido uma evolução. O Secretário de Estado afirmou que com as "condicionantes que Portugal apresenta para a prática desta modalidade, [...] será óptimo se conseguirmos criar condições para que possam ter aqui uma fase de adaptação e habituação de treino. Uma coisinha modesta, portanto, à medida das nossas condicionantes. Uma coisinha modesta mas que, decerto, "será um factor de ajuda ao desenvolvimento desta região". Será assim, depreendo, um factor modesto, mas adiante.
O presidente da Federação Portuguesa de Esqui vai mais longe: mesmo que a neve deixe de cair na serra, "há pistas artificiais e sintéticas que permitem sempre a prática do esqui". A prática de modalidades de neve, mas sem neve! Bravo! Ah, estamos no rumo certo, estamos de parabéns. Como sempre, desde sempre!

Adenda posterior: Note-se que nada tenho, a priori, contra pistas de esqui com piso sintético, com neve produzida artificialmente, indoor, etc. Aliás, elas apresentam uma grande vantagem relativamente às pistas de ar livre: são tão viáveis no alto da Serra como em qualquer outro lugar. (Falou-se até na construção de uma em Oeiras!) Assim, se a Federação Portuguesa de Esqui quiser conquistar apoios para a construção de uma pista artificial, ou com neve artificialmente produzida, na Covilhã, em Manteigas, Seia, Gouveia, Fundão, Castelo Branco ou Beja, cá por mim, óptimo! O que me incomoda é que se continue a apostar cada vez mais na artificialização desta maravilhosa área protegida que é a serra da Estrela e cada vez menos num aproveitamento a sério das suas verdadeiras potencialidades.

1 comentário:

Nana disse...

Inteiramente de acordo que tudo isso é uma aberração que nada mais visa que "gastar dinheiro" e estragar a nossa magnifica Serra !
Também acho que fazer ski em Portugal, pour fazer ski en Portugal, até pode ser no Algarve (em pistas artificiais)!
Digo também que produzir neve artificial, polue imenso e gasta imensa àgua que jà é rara e ainda ameaça de rarear mais (com a mudança climatica ) ! E de toda a maneira essa neve não pode ser produzida a cima de determinadas temperaturas (é preciso temperaturas negativas ou proximo de zero)
Penso que a Serra tem jà tanto potencial turistico guardando o seu natural, mesmo desenvolvendo-o, que seria uma pena construir estruturas que são necessàrias para a pratica de ski. Ainda me lembro do teleférico que tinham construido no alto da Serra, num sitio tão esposto ao vento que aquilo não deve ter funcionado mais de 10 vezes na vida dele !
O acesso à Torre, deveria ser condicionado, e os utilisadores dessa zona avisados que devem prever um saco para ses detritos proprios e que estes devem ficar com eles nos carros e deitados fora em baixo, nos contentores de lixo para isso previstos.
De toda a maneira, acho que o dinheiro gasto nessa "estupidês", nunca serà reembolsado pelo dinheiro que a pratica do ski possa trazer, pois esses equipamentos são caros e estão sempre a precisar de serem revistos e arranjados.

Gostei de passar por aqui (vinda pelo Arrumàrio)

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!