terça-feira, maio 15, 2007

Uma lufada de bom senso,

... Nesta atmosfera alucinada e megalómana em que, há já alguns anos, se anda planear o "futuro do turismo"(1) na Serra da Estrela, foi a opinião de Luís Patrão, presidente do Instituto de Turismo de Portugal, sobre o famigerado projecto de um casino nas Penhas da Saúde. Disse ele:
Nesta região, e nas condições actuais, não há campo para um casino. Falta um fluxo turístico regular para que o casino não se transforme numa sala exclusiva para os habitantes da região.
Claro que a alucinada megalomania ripostou. Por exemplo, Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo afirmou que
o equipamento iria reforçar o investimento da ampliação da pista de esqui, oferecendo assim um vasto conjunto de serviços aos turistas com telecabinas, praças de lazer durante o Inverno e o Verão, comércio e alojamento de montanha. «É tudo aquilo que existe noutras estâncias de montanha e é nesse enquadramento que o projecto tem que ser encarado»

O ilustre presidente da Região de Turismo talvez pudesse visitar uma dessas estâncias de montanha de que fala, durante a temporada de esqui. Veria que a Serra da Estrela nunca teve, não tem, nem nunca terá condições comparáveis. Acontece que elas têm o que falta, e faltará cada vez mais, aqui: neve. Se nevasse frequentemente por cá, se houvesse condições óptimas para esquiar durante a maior parte do Inverno (mesmo que recorrendo a canhões de neve), seria, mesmo assim, discutível a artificialização generalizada da Serra que a Região de Turismo/Turistrela propõe. Por isso mesmo noutras montanhas, onde estão implantadas as outras estâncias que o sr. Jorge Patrão refere, as áreas naturais protegidas são respeitadas, não se considerando sequer a possibilidade do esqui de pista nas zonas tampão limítrofes. Mas, caramba, na Serra o esqui é tão esporádico, tão limitado temporal e espaciamente... Vale a pena sujar mais ainda, construir mais ainda, artificializar e urbanizar mais ainda?

Por favor, sr. Jorge Patrão, deixe de ser parte do problema. Quer desenvolver a região e o seu turismo? Patrocine projectos de alojamento turístico (pode chamar-lhe de montanha, se quiser) nas localidades à volta da Serra. Promova a reabilitação urbanística e arquitectónica dessas mesmas localidades. Apoie quem está empenhado no turismo de natureza. Já vai havendo alguns, mas não são aqueles com quem costuma emparceirar. Ajude a divulgar as maravilhas naturais e paisagísticas da nossa região (mas, por favor, poupe-nos à foleirice de folhetos como o "Onde a natureza vive"). Saiba que é assim que se faz nessas outras estâncias que refere. E esqueça a neve, homem! Estamos na Serra da Estrela, não nos Pirinéus. Por muitos mamarrachos que façam construir (ou que não deixem demolir) o sr., o sr. Artur Costa Pais e o sr. Carlos Pinto, esta realidade não se alterará.

(1) Coloquei a expressão "futuro do turismo" entre aspas, porque não é de um futuro que se trata. São as mais que gastas apostas falhadas do passado, e mal recauchutadas. E também não é turismo. É construção civil e negócios imobiliários.

2 comentários:

Cova Juliana disse...

Excelente este artigo!

Anónimo disse...

Parabéns Zé Amoreira!!

A clareza, lucidez e acutilância do artigo merem a nossa admiração e aplauso. Que cegueira a desta gente que não sabe sequer copiar o que se faz pela natureza e pelas montanhas, lá fora, e aqui bem perto.
Um forte abraço
JV

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!