terça-feira, fevereiro 13, 2007

"Um pouco dos Alpes"

O jornalista Pedro Garcias escreveu um artigo de promoção sobre a Serra da Estrela, que foi publicado no suplemento Fugas do Público de Sábado, dia 10 de Fevereiro. Já sabemos como são estes artigos: e tal, paisagens arrebatadoras, e tal, a simpatia das populações, e tal, a boa mesa, o aconchego da lareira, etc, etc, etc. Apesar de não fugir muito a esta regra, um pouco de realidade parece ter infectado este artigo. A páginas tantas, numa secção com o curioso título "Um pouco dos Alpes", pode ler-se:
A serra da Estrela está longe de poder competir com a generalidade das estâncias europeias. A área esquiável é de apenas 6200 metros, divididos por nove pistas de diferentes graus de dificuldade, mas as condições existentes são perfeitas para os iniciados e aos esquiadores mais exigentes permitem, pelo menos, matar o vício. A Estrela tem ainda a vantagem de ser acessível de carro. É o que se pode chamar uma estância popular.
O reverso é o caos automobilístico, o lixo e a sensação de que não se chega a estar verdadeiramente em comunhão com a natureza, tamanha é a algazarra, sobretudo ao fim de semana.
Vou passar por alto o exagero da variadade dos graus de dificuldade (variam entre o trivial e o mediano, mesmo que estejam classificadas com a gama completa do código de cores usual) e das condições existentes perfeitas para iniciados.
Quero é notar como o segundo parágrafo do excerto que cito é absolutamente devastador para uma imagem vendável da Serra da Estrela. E se nos recordarmos que aquela área está supostamente protegida por três estatutos de protecção ambiental nacionais e europeus (Parque Natural, Reserva Biogenética e Rede Natura 2000) e que as linhas de água e as lagoas da região foram em 2006 integradas na Convenção Ramsar de protecção de zonas húmidas, então...
Como já disse, o cume da Estrela podia ser um local mágico. Sem estradas, sem mamarrachos. Os turistas desejariam fazer na Serra da Estrela o que fazem nas outras serras: subir a pé, a cavalo ou de burro. Planear visitas com duração de uma semana ou mais.
Mas parece que continuamos a preferir o que temos: visitas toca e foge e "o caos automobilístico, o lixo e a sensação de que não se chega a estar verdadeiramente em comunhão com a natureza, tamanha é a algazarra."
Estamos no bom caminho, como sempre! Estamos de parabéns, como sempre!

Sem comentários:

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!