"Aquecimento global ameaça produção de vinho no Alentejo" é o título de uma pequena notícia na pág. 46 do Público de hoje. Trata-se de uma afirmação do presidente da ViniPortugal, Vasco d'Avillez, proferida durante o Fórum Anual do Vinho, em Santarém.
O que vale é que isso é lá longe, no Alentejo. Senão, talvez pusesse em causa o projecto de transformar a Serra da Estrela numa estância turística de montanha "que possa concorrer em termos de turismo de montanha com outras da Europa, nas cidades dos maciços mais conhecidos, como os Alpes ou os Pirinéus", ancorada no produto neve, com a ampliação da estância de esqui, com a construção de uma mini-cidade nas Penhas da Saúde, entre muitas outras "maravilhas".
6 comentários:
Com o aquecimento global à porta e mais cedo do que se esperava, começa a fazer sentido que seja levada a sério a máxima do Barão dos Formarigos de que "há mais Serra para além da neve".
Assim, é tempo de agir em conformidade "ancorando" o desígnio turístico serrano noutros produtos menos perecíveis e que não se esgotem no inverno.
Pra isso, impõe-se um CISE mais actuante e com capacidades para descobrir e interpretar esses produtos e proceder à sua divulgação, dentro e fora do país nos certames da praxe, nomeadamente, na Bolsa de Turismo de Lisboa, para compensar a pobreza franciscana das mais recentes participações, nomeadamente do concelho de Seia que, em vez de exibir posters das belezas paisagísticas da região, resolveu destacar Monografia do Dr. Bigotte.
Desculpe caro anónimo, mas acho que o CISE tem feito notável. Quem me dera que cada câmara da região tivesse um CISE (acho que não há mais nenhum), especialmente se fosse tão vivo e dinâmico como o de Seia. Repare que o CISE não é um promotor turístico. Uma das suas principais funções é a da educação ambiental. (E o facto de a Câmara de Seia entender que essa é uma função necessária é sinal de uma visão que tem que ser elogiada à autarquia.) Tendo em conta que o que a Serra tem de melhor é a natureza, a educação ambiental acaba por ter alguma relevância ao nível do turismo. Mas não se pode, por causa desta ténue relação, pedir aos três (3!) funcionários do CISE que andem a correr certames tentando vender as maravilhosas paisagens da Serra, sobretudo se, ao mesmo tempo, andamos a sonhar (e a concretizar os sonhos) com estradas de S. Bento, estradas Verdes, urbanizações aqui, hotéis acolá, teleféricos assim, acessibilidades fáceis e directas assado, centros comerciais aqui, casinos ali, tudo coisas que rebentam completamente essas mesmas paisagens e ainda contribuem para que se encham de lixo e ruido. Tudo coisas que afastam para longe da Serra da Estrela os mais entusiásticos adeptos do tipo de turismo para que a Serra da Estrela tem melhores condições.
Não, caro anónimo. Se quer encontrar os responsáveis por este estado de coisas, não os vá procurar ao CISE...
Teria sido muito bom que um "blog" como este nao tivesse necessidade de existir, infelizmente nao e assim. Por isso desejo dar muita forca para os iniciadores deste projecto e, dar-lhe os meus parabens.
Um abraco da encosta norte.
Respondendo ao Sr. ljma só lhe quero dizer que é muito fácil falar dos malefícios do excesso de comida quando se tem a barriga cheia e nunca se sentiu a provação da fome.
O que seria, hoje, a Covilhã se não tivesse tido, no passado, a quase exclusividade do acesso ao maciço central, nomeadamente, quando a sua indústria começasse a sentir os efeitos da globalização e da concorrência asiática?
Pelos vistos, querem fazer do lado desconhecido da Serra uma reserva de índios.
Será que as respectivas povoações não têm o direito à existência e a participarem no banquete turístico da Estrela, sendo certo que o mesmo que tem lugar, em grande parte, nos seus próprios terrenos?
A expressão que usou "banquete turistico da Estrela" é eloquente por si só!!Antes demais um banquete ou festim acaba por se esgotar, neste caso esgotam-se os recursos que fazem da serra a atracção que ela é!É esta visão exacta que fará com que a serra no fim acabe por não servir a ninguem, todos a querem mas ninguem quer saber dela!
Caro anónimo, viva.
Supondo que se trata do mesmo anónimo do comentário de dia 9, começo por notar que não contrapôs nenhum argumento à resposta que lhe dei no mesmo dia. Estamos agora a falar de outra coisa. Tudo bem.
É verdade que é mais fácil falar dos malefícios do excesso de comida quando se tem a barriga cheia e nunca se sentiu a provação da fome, mas isso não significa que os malefícios do excesso de comida não sejam reais, ou que sejam uma invenção dos que têm a barriga cheia para manter na fome os que nada têm. Estou a ser advogado em causa própria, mas francamente acho que não está a ver bem a coisa se entende que o meu papel aqui é o de defender o concelho da Covilhã e criticar os restantes. Por acaso, é muito mais frequente criticar a da Covilhã do que as outras câmaras da região. Mas esse nem é o ponto. Quanto a mim, a fronteira Portugal-Espanha já é uma linha imaginária, quanto mais as fronteiras entre Covilhã-Seia ou Covilhã-Manteigas!
Quando fala da quase exclusividade passada da Covilhã nos acessos ao maciço central, refere-se a quê? O primeiro acesso à Torre foi feito pelo lado de Seia. Pelo que sei, o segundo também (refiro-me à estrada nacional 339 e ao acesso S. Romão-Coxaril, sem saber qual destes dois é mais antigo).
Quando refere o que a Covilhã seria hoje sem essa (discutível) exclusividade, em quê é que está a pensar? E o que acha que a Covilhã é hoje? A capital da prosperidade?! E acha que a Covilhã é o que é (seja lá o que entende por isso) graças às estradas usadas pelos que vêm "à neve"?! Olhe que é uma tese original...
Acha que eu sou dos que querem fazer do lado desconhecido da Serra (não sei que lado seja, mas vá) uma reserva de índios?! Falemos educadamente. Leia o Cântaro Zangado com atenção e diga-me o que é que o leva a pensar isso. Francamente, acho que está a ser muito injusto nesse julgamento, por razões que são as que explico a seguir, quando me referir ao último parágrafo.
Olhe, não sei ao certo a que se refere a sua pergunta do último parágrafo. Mas da forma como fala, parece acreditar que está a decorrer um "banquete turístico". Ora bem, um banquete costuma ser ocasião de excessos e, por isso mesmo, deve ser excepcional. Qualquer médico lhe diz que banquetes, é melhor não. Se ler com algum cuidado o Cântaro Zangado saberá que eu defendo não banquetes turísticos, mas sim três turisticamente equilibradas refeições por dia, para todas as regiões da Serra, em todas as alturas do ano. Defendo hotéis, estalagens, pousadas, pensões, parques de campismo nas localidades ou nas suas imediações (e não considero as Penhas da Saúde ou as Penhas Douradas localidades), defendo pequenas empresas que ofereçam guias para passeios a pé, a cavalo, de burro, em BTT, ou actividades de parapente, escalada ou canoagem, defendo um turismo em que os visitantes são encorajados a dormirem hoje em Unhais, amanhã em Alvoco, depois de amanhã em Loriga. Defendo um turismo em que o principal atractivo sejam os maravilhosos vales e localidades à volta da Serra, em vez da tristeza deprimente e rasca da Torre da Turistrela. Defendo um turismo em que os turistas saiam dos seus carros e, em vez de regressarem a casa no mesmo dia, eventualmente comprando um queijito ou uma peça de louça de fancaria no fim do sku, aqui permaneçam vários dias, pagando pela estadia, pela alimentação e pelas actividades que cá realizarem. Estou a sonhar? Sim. Estou a sonhar que é possível desenvolver na Estrela o tipo de turismo que se pratica em todas as montanhas da Europa, o tipo de turismo que se pratica no Gerês. O tipo de turismo para o qual a Serra da Estrela está melhor dotada. Um tipo de turismo com que todos, em todos os lados da Serra, podem ficar a ganhar.
Caro amigo anónimo: aquilo que chama "banquete turístico" são apenas as migalhas do banquete da Turistrela, empresa que, como bem sabe, não está sedeada em localidade nenhuma do "lado desconhecido da Serra", está sedeada na Covilhã. Como, de resto, acontece com a Região de Turismo. É tempo de mudar de paradigma. Defenda e desenvolva (preservando) o que tem, sem ligar a estes que o que querem é um novo (ou velho) Algarve na Serra da Estrela, em vez de pedir, humildemente, aos mesmos de sempre, as migalhas de sempre! Ou então, olhe, defenda as estradas que levam à Turistrela os turistas que podiam ficar aí, no "lado escondido da Serra". O caro anónimo lá saberá o que lhe convém mais...
Muito obrigado pela sua participação. Desculpe este longo "testamento". Espero que reconheça que o tempo e "latim" que dispendi a escrevê-lo (foi tanto o tempo que o tpais, entretanto, me ultrapassou!) não são os que que se justificariam caso considerasse que me dirigia a um "índio da reserva do lado desconhecido da Serra".
Vá apitando!
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