quarta-feira, maio 03, 2006

Cantiga ao desafio

O site Lapa dos Dinheiros ~~~lapeiros.com~~~ é um site de divulgação da bela aldeia da Lapa dos Dinheiros, parece-me que produzido (como o Cântaro Zangado) à custa da carolice e do entusiasmo de um ou dois habitantes da terra. Tem informações sobre a aldeia e serve como "placard" de anúncios para os seus naturais espalhados pelo mundo.
Apresenta também, e por isso é que o trago aqui ao Cântaro Zangado, um poema sobre a Lapa (de autor anónimo), intitulado "Poema à Minha Terra". O interesse deste poema para o Cântaro reside na última estrofe, que apresento aqui:

E agora para terminar
Um pedido vou deixar
Ás entidades competentes
Liguem uma estrada ao Coxaril
Que os benefícios serão mil
Em favor das nossas gentes

O Coxaril é aquele sítio na estrada Seia-Torre, um pouco abaixo da Lagoa Comprida, onde chega um caminho vindo de São Romão, asfaltado há alguns anos. Note-se que está actualmente em curso o alargamento, rectificação e asfaltação de outro caminho naquela zona, entre a Portela do Arão (perto de Loriga) e a Lagoa Comprida. Para que quer o anónimo poeta ainda mais uma estrada nesta vertente?
Imagino que o que ele tem em mente é a hipotética possibilidade de a Lapa dos Dinheiros passar a servir de via para os turistas dos fins de semana da neve. Ou seja, parece não se tratar de "Venha repousar e admirar a beleza da zona da Lapa", mas antes de "Passe pela Lapa a caminho da Torre". Posto assim, parece evidente que uma tal estrada é um autêntico tiro no pé, não é?
Mesmo que não se vejam as coisa assim, note-se que a possibilidade da Lapa dos Dinheiros como passagem para a Torre é muito discutível. Vejamos, a Senhora do Desterro é uma pequena Aldeia no caminho entre São Romão e o Coxaril. Quais são os "mil benefícios" que dessa via resultam em favor das gentes da Senhora do Desterro? Quantos turistas é que usam aquela estrada? Que comércio e que instalações hoteleiras é que ela viabiliza? Suspeito que a resposta a todas estas perguntas é "nenhuns" ou "muito poucos".
Por outro lado, note-se que não foi a ausência de estrada para o Coxaril que impediu um ambicioso empreendimento hoteleiro, situado justamente na Lapa dos Dinheiros, que tem sido notícia nos orgãos de comunicação nacionais pela qualidade (refiro-me à Casa da Lapa Mourisca). Seria possível uma coisa assim na confusão desclassificada do Sabugueiro? Duvido.
Não, estas estradas na Serra não trazem progresso. Algumas trazem turistas, ou melhor, permitem a passagem de turistas a caminho da Torre. Todas elas, no entanto, impedem o desenvolvimento do turismo assente na natureza, na descoberta da beleza da nossa região e no sossego que ainda se pode gozar por aqui. O mais grave, para mim que não estou ligado à Serra por motivos económicos, é que estas estradas me roubam aquilo que mais me agrada na Serra: a solidão, o silêncio, o mistério, a beleza das paisagens e a natureza ainda em razoável estado de conservação.
Para alegrar este post, termino com uma estrofe dirigida aos habitantes da Lapa dos Dinheiros (e das outras aldeias, vilas e cidades da corda da Serra), à laia de cantiga ao desafio:

Por tudo isto, p'ra terminar,
Um apelo vou deixar
A todas, todas as gentes
Se não quereis vossas terras reduzir
Ao comércio rasca
E ao trânsito dos do espírito indigentes,
Não suspireis por mais asfalto,
Mas antes por mais florestas e mato!
(Não tem rima nem ritmo, paciência, a poesia não é comigo! Venha daí uma resposta em regra!)

5 comentários:

Anónimo disse...

Vivas, essa estrada da portela do Arao é aquela que vai dar mesmo junto à lagoa comprida??

ljma disse...

Olá!
Esta estrada da Portela do Arão vai dar a cerca de um quilómetro depois da barragem, para quem sobe a serra no sentido Seia - Torre. Vem dar à estrada nacional já depois da recta grande. A mim mete-me imensa pena o aspecto que aquela paisagem está a tomar... É hilariante que pessoas com responsabilidades (Lemos dos Santos da AIBTSE, ver o blog Tráfego na Serra da Estrela) considerem que esta estrada vai dar um contributo importante para diminuir a gravidade dos congestionamentos de tráfrego na Serra

Anónimo disse...

Pois, era essa estrada exactamente que tinha em mente!!(Infelizmente!)Esse vale é de uma beleza extrema essencialmente porque se encontra diminutamente humanizado.Uma estrada de alcatrão pela encosta desse vale é um crime, mais ainda porque se bem me lembro a inclinação do terreno não permite uma estrada em condições, a não ser que se arrase com terraplanegens todo o percurso!!É preciso não esquecer que com cada estrada de alcatrão vem mais lixo!
José, tens noção que o teu blog já ultrapassou em muito o teu intuito inicial de puro desabafo.A verdade é que tu próprio já deste o passo seguinte ao enviar a carta ao "Patrão".Este momento não pode refrear e o sentimento de indignação espalha-se! é preciso intervir e evitar que um bem comum como a serra seja pura e simplesmente "algarveado".Fiquei profundamente chocado ao saber que a própria RTSE projecta um parque de estacionamento numa zona quase totalmente virgem como é o extremo da lagoa comprida.Mas atenção aos outros leitores que se interessam e chocam ao lerem este blog;"O cantaro Zangado" será tão mais "incomodo" quanto mais pessoas o lerem e divulgarem!!Mobilizem-se. Abraço

ljma disse...

Tiago, obrigado pelo encorajamento e pela exortação "Mobilizem-se". (Devo dizer que eu também não tenho feito tudo o que posso nesse aspecto: tenho amigos, que sei que concordam comigo, a quem ainda não apontei o Cântaro...)
Quanto à escrita do Cântaro, faço o que posso, mas acho que ainda não é o suficiente. Pouco a pouco, passo a passo se vai ganhando força e segurança para dar o passo seguinte. Comentários como o teu ajudam. Agora, parece-me que, com o Cântaro, ando apenas a dizer aquilo que já pensávamos há muito tempo. Receio que o Cântaro seja apenas um foro onde pessoas que concordam umas com as outras desabafam umas para as outras. Num certo sentido, já não é pouco (modéstia à parte), porque me parece que já ultrapassámos a dimensão do habitual círculo da mesa de café ou da porta da tenda. Mas devíamos começar a pensar em aumentar a visibilidade para o exterior. Como, não sei ao certo. Pensemos nisso...

Anónimo disse...

Um "prós e contras" na rtp sobre o que é um turismo/deenvolvimento sustentável com preservação real do meio ambiente seria optimo passo. É preciso enviar mails para todas as instituiçoes possiveis e para alguns "paineleiros" da nossa praça para comentarem nas suas rúbricas.
Ricardo

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!