Vamos lá ver, antes que surja algum mal entendido. O Cântaro Zangado pretende apenas criticar comportamentos, atitudes e projectos, não personalidades ou instituições. Bem sei que não o tenho conseguido e que nunca o conseguirei; autarquias e Turistrela são o bombo da festa por aqui, tenho que reconhecer. Por um lado, porque me zango (ao fim e ao cabo, sou um Cântaro Zangado) o que perturba a minha noção do que realmente quero dizer; por outro, porque manter um tom sempre neutro, sempre estrictamente informativo, sempre construtivo, sempre politicamente correcto, e sempre, já se está a ver, completamente entediante, não é para mim... (Aliás, o que dessas linhas orientadoras resulta também não é próprio para leitura.) Desculpem. Não me levem muito a mal, e façam o favor de me avisar quando ultrapassar os limites.
Não desejo criticar quem governa a Serra, quero apenas comentar a forma como ela é governada. Claro que nessa crítica das acções tenho que apontar as responsabilidades a quem as tiver, o que configura uma crítica aos autores. Pode se achar que é chato, mas cada um faz a cama onde eu, depois, o deito...
Mesmo quando o parece, não pretendo que nenhum director ou coordenador seja substituído, não quero saber se se troca, nas próximas autárquicas, algum presidente de câmara por outro de outro partido (eu voto, claro, mas o blog não tem nada que ver com isso), não tenho opinião sobre a manutenção da posição de monopólio da Turistrela, nem tão pouco terei sobre alguma OPA que alguém, da região ou do exterior, nacional ou estrangeiro, lhe queira lançar.
Estou-me nas tintas (ou seja, é-me indiferente) para o futuro e continuidade de organismos como a Região de Turismo, a Acção Integrada de Base Territorial, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional. A minha atitude mais vincada quanto a instituições é uma de alguma simpatia pelo Parque Natural (PNSE). Não gostava de o ver acabar, detesto vê-lo transformado em mera figura decorativa ou apresentado como força de bloqueio em vez de geradora de oportunidades. Imagino que se esta é a imagem que passa, alguma responsabilidade lhe cabe, também.
Simpatizo com o PNSE, mesmo quando impõe limites à minha maneira de estar na Serra (já não posso legalmente acampar onde quiser, ao que parece). Desejo no futuro poder estender esta simpatia a outras instituições, autarquias, personalidades e empresas. Admito que posso ainda não o ter feito por estar mal informado.
Como a Turistrela não é apenas a concessionária exclusiva do esqui, mas antes a de toda a actividade turística na Serra, não vejo porque é que não há-de ela desempenhar um papel que a torne também merecedora da minha simpatia. Basta que tenha mais atenção (alguma atenção) a outros turismos e que, por isso, se esforce um bocadinho por preservar as paisagens e o ambiente da Serra que, esses sim, são a sua verdadeira estrela (e não o futuro casino, como disse uma vez, publicamente, o dono da Turistrela, Costa Pais). Já agora, porque não apoiar efectivamente o PNSE para, mais do que apenas preservar, reconstruir a paisagem degradada pelos incêndios, pelo lixo, pelas estradas, pelas urbanizações? Se isto não é promover e desenvolver o turismo na Serra, não sei o que seja.
(E agora que deixei este aviso escrito, já posso dizer o que me apetecer, como me apetecer. Viva!)
5 comentários:
Que a Montanha tenha um futuro e um destino o mais natural possível é esse o objectivo, só assim estará também assegurado o futuro das pessoas, dos locais da Montanha, uma lógica de desenvolvimento sustentado, que não tenha por base a delapidação do património natural e cultural que resta, em nome de um progresso que efectivamente não se sente...
Eu estou de fora, de certo modo, porque a minha vida não depende (financeiramente, quero dizer) da montanha (nem pelo turismo, nem por outra via qualquer), mas parece-me, pelo que vou vendo, que tem toda a razão, não se sente progresso por aí além. Isto dá que pensar. Se somarmos os milhões de contos e, mais recentemente, de euros, que ano sim, ano não se anunciam para arrancar a Serra do esquecimento, para acordar o gigante adormecido... Mas também lhe digo, com o que querem fazer as forças vivaças, ainda bem que o dinheiro parece desaparecer sem deixar rasto...
Região de Turismo sugere mudanças ao plano de ordenamento
Para evitar limitações ao turismo no Parque Natural da Serra da Estrela
Segundo Jorge Patrão, presidente da RTSE, os projectos turísticos previstos para os diferentes núcleos de recreio da montanha “não ferem o ambiente”
A Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE) pretende que o Parque Natural daquela área elabore planos de pormenor (PP) que permitam o desenvolvimento dos principais núcleos de recreio da montanha. O pedido foi feito por Jorge Patrão, presidente da RTSE, no âmbito da revisão do plano de ordenamento do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), que está em curso. A proposta de revisão apresentada pelo PNSE “é globalmente limitadora e vazia no que respeita aos núcleos de recreio”, alerta. Segundo aquele responsável, os planos de pormenor são “essenciais” para não se correr o risco de o documento travar “diversos investimentos turísticos já anunciados”.
Até porque, garante Jorge Patrão, nenhum dos empreendimentos defendidos pela RTSE, “é nocivo para o ambiente”. “Pelo contrário, alguns são a única forma de o preservar”, assegura. Como exemplo, aponta projectos que prevêem a requalificação de edifícios em ruínas na Torre e Penhas da Saúde. “Para a Região de Turismo não há preservação do ambiente enquanto houver ruínas na Serra”. A construção de telecadeiras até à Torre é considerada também uma mais-valia ambiental, “porque vai permitir reduzir fortemente o trânsito automóvel”. Em suma, “todos os projectos previstos são equilibrados”, assegura.
Numa carta dirigida ao PNSE no início de Março, Jorge Patrão sugere que a revisão do plano de ordenamento sirva para elaborar os planos de pormenor dos principais núcleos de recreio. “Estão previstos há mais de 30 anos. Para mim, são uma obrigação legal, mas nunca foram elaborados, o que cria uma indefinição para as zonas de recreio mais conhecidas da Serra da Estrela”. “O pior que pode existir é a indefinição. Pensamos fazer algo, mas depois esbarramos em pareceres negativos do Ambiente, por falta de uma definição a montante. É isso que agora temos que acautelar, com um Ministério do Ambiente e um Parque Natural mais abertos”, realça Jorge Patrão.
“CONTRIBUTO CONSTRUTIVO”
Tendo como ideia base que “o turismo pode tornar-se num meio para a reabilitação ambiental”, a carta do presidente da RTSE sugere que a revisão do plano de ordenamento enquadre o núcleo de recreio da Torre “na vertente de ampliação da estância de esqui”. “Aguardamos também uma reunião com o Governo para recuperação de todos os edifícios da Torre, incluindo os das bolas, obras que devem também ser consideradas”.
O núcleo da Lagoa Comprida “deve ser reconvertido como ponto de saída de telecadeiras, tal como nas Penhas da Saúde e Alvoco”. “Um meio de transporte mecânico que permite obriga à construção de pequenas torres, mas sem impacto na paisagem”, realça Patrão.
A carta da RTSE pede ainda planos para “o núcleo de recreio das Portas dos Hermínios (antigo sanatório)”, para “estâncias de montanha nas Penhas da Saúde, Penhas Douradas e Vale do Rossim - que devem prever uso exclusivo de materiais adequados, com predominância de madeira ou granito - ”, assim como planos para uma aldeia de montanha no Sabugueiro e para melhoramentos nos Piornos, Covão da Ametade e Varanda dos Carqueijais. “Esta é a nossa colaboração construtiva para a revisão do plano de ordenamento”, conclui Jorge Patrão.
Esqui
Ampliação já tem projecto
A RTSE já tem entre mãos o projecto da primeira fase de ampliação da Estância de Esqui da Serra da Estrela – que “não extravasa a área limite da estância”, realça Jorge Patrão. Para além das pistas, e ampliada a zona de venda de forfaits e de material, “que passam para o triplo”.
Para o futuro, está a ser estudada a ampliação com pistas com mais de um quilómetro de extensão, “que cheguem à zona da Santa ou eventualmente à zona da Barragem do Padre Alfredo”. “É tecnicamente possível, mas numa segunda fase, que nem está a ser trabalhada agora”, refere.
Seia
Melhorar o Sabugueiro
No Sabugueiro, “já há um acordo de princípio com o Instituto de Estradas para a municipalização da via que atravessa a aldeia”, refere Jorge Patrão. A Câmara de Seia terá, assim, total capacidade de intervenção para melhorar a aldeia mais alta de Portugal. “É o único caminho para a requalificação do alojamento, que ali tem características únicas”, realça Jorge Patrão. As obras vão passar também “pela renovação de passeios e da iluminação pública”. “E será uniformizada toda a sinalética”, conclui.
Elogios ao director do PNSE
“Se o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) e o PNSE levarem em consideração as nossas sugestões, poderá daí resultar um documento equilibrado”, conclui Jorge Patrão. Ao contrário das queixas de falta de diálogo, apresentadas por diversos autarcas acerca do processo de revisão do plano de ordenamento, o presidente da RTSE elogia o presidente do PNSE, Fernando Matos.
“Não quero ser injusto: não me posso queixar de falta de diálogo e elogio a posição do director do Parque: uma posição de maior diálogo que o próprio aparelho”.
In "Diário XXI" 29-03-2006
Obrigado, caro anonymous, por me chamar a atenção para isto. Tenho vontade de desistir. Núcleo de recreio das Portas dos Hermínios? O que é que lá há, a não ser duas ou três casas? Porque é que ainda lá há-de haver mais? Reconstrução das torres das bolas, no "núcleo de recreio da Torre"? Porque e que não desmontam mas é aquilo, que já bem basta o edifício do centro comercial! Como é que o ambiente melhora com uma pintura de fresco naqueles mamarrachos?! E veja bem, não é só a assembleia municipal da covilhã a enumerar, um por um, os locais onde a turistrela pretende intervir. agora também a região de turismo. Que interessante, não é? Uma verdadeira frente unida para a protecção do ambiente... Bolas para isto, que vontade de desistir!
Algumas frases "interessantes" do senhor presidente da RTSE.
"...incluindo os das bolas..."
"...é globalmente limitadora e vazia no que respeita aos núcleos de recreio..."
"...nenhum dos empreendimentos defendidos pela RTSE, “é nocivo para o ambiente, pelo contrário, alguns são a única forma de o preservar...”
"...“Para a Região de Turismo não há preservação do ambiente enquanto houver ruínas na Serra...”
"...A construção de telecadeiras até à Torre é considerada também uma mais-valia ambiental, “porque vai permitir reduzir fortemente o trânsito automóvel...” (O SR. JORGE NÃO SABE O QUE É CAMINHAR?)
"... “Um meio de transporte mecânico que permite obriga à construção de pequenas torres, mas sem impacto na paisagem...”
"...Não quero ser injusto: não me posso queixar de falta de diálogo e elogio a posição do director do Parque: uma posição de maior diálogo que o próprio aparelho...”
John Malkovitch (responsável por este e pelo post anterior)
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