quarta-feira, março 08, 2006

Ainda a decisão da Assembleia

Nesta notícia, publicada pelo jornal Notícias da Covilhã, podemos encontrar mais alguns detalhes da reunião da assembleia que "rejeitou" o projecto de ordenamento do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). Ficamos a saber, por exemplo, que
António João Rodrigues, presidente da Junta de Unhais da Serra, foi um dos mais críticos na última Assembleia municipal. O autarca acusa o PNSE de “nunca ter feito nada pela vila” e que a imposição do Plano de Ordenamento “não está de acordo com os legítimos interesses da população, porque vai contra os objectivos urbanísticos e de aproveitamento energético” que estão previstos.
Esta posição do Presidente da Junta de Freguesia de Unhais da Serra inspira-me os seguintes comentários:
(1) ao certo, quais são as obrigações do PNSE no que toca a fazer "alguma coisa pela vila"? É bom que se tenha esta questão bem esclarecida, para se poder avaliar se essas alegadas obrigações estão, ou não, a ser cumpridas. Vamos aos estatutos do Parque?
(2) as vagas referências do Presidente da Câmara sobre os "anseios das populações rurais" (ver o meu comentário a este artigo do Blog Cortes do Meio) ficam melhor explicitadas. Os das populações da freguesia de Unhais estão aparentemente relacionados com "objectivos urbanísticos e de aproveitamento energético".
Compreende-se que os populares de Unhais sintam o PNSE como uma "seca" urbanística, que os obriga a ainda mais uma autorização para construirem qualquer coisa, para além das chatices impostas pela Câmara (as que tive com a Divisão de Urbanismo, por causa de um barbecue com 3m2, ao longo de todo um ano, davam um blog só por si).
Mas quanto aos aproveitamentos energéticos (penso que se trata da instalação de um parque eólico na Erada), custa a acreditar que as populações de Unhais da Serra estejam cabalmente informadas sobre questões energéticas e fortemente empenhadas em conseguir, para a sua freguesia, um parque eólico... É bem sabido que a autarquia lucrará com a instalação do parque e a sua entrada em funcionamento. Mas esse lucro destina-se apenas à junta de freguesia onde o parque está instalado, ou é atribuído ao concelho, sendo gerido pela autarquia, distribuído pelas freguesias que ela entender? Eu não sei, não conheço bem os termos em que se planeia a instalação dos parques eólicos. Mas, mesmo sem fazer esse estudo, duvido muito que o cidadão comum de Unhais venha a sentir pessoalmente grandes vantagens com estes empreendimentos de "aproveitamento energético".
O "Cântaro" é a favor da energia eólica, embora ache que haver cuidados com a localização dos parques, porque colocam localmente problemas ambientais óbvios. Por exemplo, só para falar de impactos sobre pessoas, os aerogeradores são muito barulhentos. Compreende-se que parte dos inconvenientes possam ser compensados através de apoios às autarquias, mas em quê é que isso, directamente, afecta as populações? [Estou mesmo a ver o filme: graças ao parque eólico, a autarquia ganha uns cobres extra, parte da massa é entregue à junta de freguesia, que gasta o dinheiro no arranjo um jardinzito dentro de uma rotunda, na "sinalização" (com tractores e carradas de brita) de um novo "trilho pedestre" para automóveis, ou noutra inutilidade do mesmo calibre...]
Ainda há alguns meses, houve uma freguesia do Sabugal que boicotou umas eleições porque não foi autorizada a instalação de mais aerogeradores num parque eólico próximo. Em contrapartida, no ano passado, na Eslovénia, gerou-se um forte movimento para impedir a criação de um parque eólico ao longo da linha de cumeada de umas montanhas que eles têm próximo da fronteira sul, com a Croácia. E venceram! Mas é claro que a Eslovénia, um paízeco com dois milhões de habitantes, não precisa tanto de desenvolvimento como Portugal, eles podem-se dar a certos luxos...

Sem comentários:

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!