sexta-feira, abril 04, 2008
Tribunal Espanhol Trava Estancia de Esqui
Ficámos a saber de uma decisão inédita de um tribunal espanhol que revoga a autorização concedida pela Junta local de construir uma estância de esqui com 50 km de pistas acima dos 1500 metros de altitude num Parque Natural da provincia de Castela e Leão.
Além das condicionantes de se encontrar dentro de uma área protegida e de zona importante de ursos, o tribunal alegou tambem a manifesta ausencia de viabilidade de uma estância a estas altitudes e latitudes face ao aquecimento global comprovado que tem provocado uma clara diminuição real da queda de neve. Entre outras criticas o tribunal evidencia tambem a falta de Planos de Desenvolvimento Turistico, Planos de Uso e Gestão e Plano de Melhorias.
Parece-vos familiar??
Para informações mais detalhadas e mesmo sobre a dita sentença ver um blog espanhol e o publico de hoje.
sexta-feira, novembro 02, 2007
Directamente do IPCC
Winter tourism in mountain regions is anticipated to face reduced snow cover.
(Página 544 do 4º relatório do IPCC, capítulo 12 [Europa], disponível aqui.)
O que vale é que a gente não está bem, bem, na Europa. Acho que aqui no Turistrelistão não teremos problemas, desde que haja um forte investimento do estado. Se levarmos por diante os grandes projectos âncora previstos, como as telecabines, a ampliação da estância de esqui, a "revolução" nas Penhas da Saúde, a gente vai lá.
Assim continuemos no rumo certo, assim continuemos de parabéns!
terça-feira, junho 26, 2007
Só nós dois é que sabemos...
Galciar Aletsch, Suiça (imagem da Wikipédia).
O assunto das alterações climáticas não é novo. Já há muito tempo que se discute, já há muito tempo que o foco da discussão deixou de ser o facto em si (o aquecimento global é ou não real?) para passar a ser o que o causa (é causado pela actividade humana ou tem causas naturais?). É cada vez mais claro que a opinião dominante entre cientistas do clima e decisores de topo está a pender para a primeira hipótese, a de que é a actividade humana (mais concretamente, a emissão de gases com efeito de estufa pela actividade industrial e agro-pecuária e pelos transportes) a principal causadora do aquecimento do planeta. Esta opinião é de tal forma generalizada que até o presidente dos Estados Unidos parece já ter sido convencido.
Mas resiste ainda uma minúscula bolsa de (dois) irredutíveis, entrincheirada numa pequena cidade da Beira Baixa. Munidos de estudos nenhuns, do alto de currículos nenhuns, estas duas climatológicas nulidades afirmam, contra ventos e marés, que não, que o aquecimento global ainda não está demonstrado, que ainda não se faz sentir na Serra da Estrela, até porque "no ano passado só foi necessário produzir neve artificialmente durante quatro dias" (veja aqui e aqui).
Volto a fazer a pergunta do costume: que crédito merecem estas originalíssimas considerações?
Ironias à parte, aceitemos por um momento a tese dos senhores Artur Costa Pais e Jorge Patrão (são estes os nomes dos dois desalinhados analistas do clima da Estrela, o primeiro administrador da empresa que gere a estância de esqui, o segundo presidente da Região de Turismo). Imaginemos que a queda de neve na Serra da Estrela se mantém nos próximos vinte anos igual à que se verificou no anno alegadamente mirabilis de 2005-2006, o tal em que só foi preciso ligar os canhões de neve em quatro dias. A pista da estância que classificaram como negra (mas que não é mais do que vermelha) esteve aberta três dias, se tanto, e a estância esteve reduzidas às duas ou três pistas mais pequenas durante o primeiro mês da época. Durante a maior parte da época, a estância apresentou uma fina camada de neve, apenas nas pistas; no resto, via-se cervum e rochas a descoberto. A pouca neve que cobre as pistas derrete durante o dia, transformando-se numa papa desagradável a partir do meio dia, e à noite congela, transformando-se num vidro perigoso até meio da manhã. Descemos as pistas em apenas meio minuto, mas subimo-las, sentados nas telecadeiras, em sete (isto, durante a semana, quando quase não há esquiadores e se apanha a telecadeira assim que se chega ao fim da descida, sem se ter que aguardar em bichas).
Esqui de fraquíssima qualidade, em suma. Este é o esqui que temos na Serra da Estrela, nos anos considerados bons.
E é acreditando (contra toda a evidência e contra a opinião dominante) que esta tristeza é viável apesar do aquecimento global, que Artur Costa Pais e Jorge Patrão planeiam o futuro do turismo na Serra da Estrela, defendendo investimentos públicos na estância, defendendo a suburbanização das Penhas da Saúde como pólo de après-ski, defendendo a ampliação da estância para altitudes ainda menores, logo, com ainda menos neve.
Francamente, isto é sério?
Está a decorrer na Guarda, até amanhã, o primeiro Congresso Ibérico da International Permafrost Association, com o tema "Ambientes periglaciários e variações climáticas: das montanhas às altas latitudes", em que se discutem projectos internacionais para avaliar e perspectivar as alterações climáticas regionais e globais. É interessante contrastar a opinião de Gonçalo Vieira (investigador do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa) com o iluminado (ou alucinado?) optimismo de Jorge Patrão e de Artur Costa Pais.
PS1: O contraste de opiniões que sugiro é feito, e bem, pelo Estrela no seu melhor.
PS2: Gosto muito de esquiar e esquio por vezes na estância da Turistrela. Tenho pena que a realidade da Serra da Estrela seja a que acabei de descrever. Mas as coisas são como são.
sexta-feira, março 16, 2007
"As alterações climatéricas não serão assim tão graves"


Mmm, duvido disso. As imagens que ilustram este post mostram uma cerejeira e um sabugueiro em flor, no concelho de Gouveia. Tudo normal? Quase: as fotografias foram tiradas, respectivamente, em Outubro e em Novembro de 2006 (obrigado, Luís).
Quando era pequeno, via cegonhas em Monforte da Beira (na zona do Tejo Internacional), na Primavera e Verão. Agora vejo cegonhas, muitas, todo o ano, na Boidobra (Covilhã) e entre os dois acessos ao Fundão da autoestrada A23.
Em Viena de Austria, num certo parque, há um castanheiro secular cuja floração marca "oficialmente" o início da Primavera. É uma tradição antiga, este castanheiro já é o terceiro da "dinastia" de anunciadores da Primavera. No início do Outono de 2006, floriu.
"As alterações climatéricas não serão assim tão graves"... Não? Acho que ainda não vimos nada...
Se, por acaso, ficou impressionado pelo documentário "The Great Global Swindle", produzido pela Channel 4 e recentemente transmitido, leia este artigo no Ondas. Se acha que a tese da influência das manchas solares sobre o clima veio lançar novos dados sobre esta questão, saiba que ela não é nova e leia este comunicado da Max Plank Society; se ficou espantado pela anunciada incongruência da "lentidão" do aquecimento das camadas intermédias da troposfera, saiba que o anúncio dessa "lentidão" resulta de observações que os próprios autores já corrigiram; saiba que pelo menos um dos cientistas que participaram nesse programa se manifestou incomodado com o seu teor claramente tendencioso. Saiba mais ainda aqui.
quarta-feira, março 14, 2007
Nem de propósito!
"Segundo os valores anunciados ontem pelo secretário de Estado adjunto da Indústria e Inovação, Castro Guerra, as instalações até 5 quilowatt (kw) receberão 460 euros por megawatt (mw), enquanto as instalações entre cinco e 150 kw receberão 350 euros por cada mwh produzido."
Transcrevi este excerto para ver se consigo de novo "aliciar" alguem (nem que seja uma pessoa, já fico satisfeito) a instalar sistemas de produção doméstica de energia. É que o valor que pagam aos produtores domésticos pela energia por eles gerada é 4 vezes superior ao valor que este mesmo produtor paga pela utilização da energia obtida da EDP!
Talvez possa haver aqui algo de perverso, mas se realmente incentivar a instalação de sistemas de produção de energia de fontes renováveis será uma boa estratégia. Eventualmente, os subsidios poderão terminar se o numero de produtores aumentar muito, mas isso seria um excelente indicador, não?!
Este subsidio poderá então ser o catalizador para se ultrapassar a tal barreira inercial que falei anteriormente. Creio que a partir do momento que a intalação destes sistemas se expanda, ganhará a dinamica necessária para não precisar de incentivos nenhuns!
terça-feira, março 13, 2007
Da Discussão Nasce a Luz

Resumidamente, o que se passou é que eu considerei este empreendimento uma boa surpresa devido ao evidente cuidado que os seus promotores tiveram com o seu enquadramento na paisagem, ou seja, o oposto do que se tem passado, por exemplo, nas Penhas da Saúde, na Torre ou mesmo no Sabugueiro (os principais nucleos de altitude)! Por seu lado, este meu comparsa ficou muito desagradado por este empreendimento não ter qualquer tipo de aparelho que permitisse obter energia de fontes renováveis (micro-aerogeradores ou paineis solares ou fotovoltaicos). Na altura, reagi talvez um pouco extemporaneamente e entrei ali na tal acesa discussão com o meu comparsa. Mas tudo terminou de boa forma e hoje consigo reavaliar com mais clareza a sua posição e retirar dela o que considero positivo!
Não é que tenha mudado de opinião sobre a minha satisfação de ver um empreendimento que mostra que os seus promotores entendem a importancia do ambiente envolvente no sucesso deste tipo de turismo, mas de facto este meu amigo tem uma certa razão.
De facto, todos os empreendimentos turisticos, principalmente dentro de áreas protegidas, deveriam ter instalados sistemas de aproveitamento de fontes de energia renováveis! Refiro principalmente os empreendimentos turisticos por considerar que, à partida, têm maior capacidade financeira para dispor desta tecnologia mas nós, particulares, devemos também apostar numa atitude pro-activa no que toca a diminuir a dependência de fontes de energia não renováveis! Até porque, a médio prazo o investimento compensa e cada vez mais (subida do preço do petróleo e subida das tarifas da EDP previstas com o fim da limitação de preços pelo estado)! Este é um exemplo em que o cidadão individual pode contribuir para o combate ao aquecimento global. Não poderemos continuar a culpar os governantes pelo pouco que se faz na redução da dependencia de energias não renováveis e poluentes e nada fazer a titulo individual! Aqui podemos fazer realmente a diferença
Mas as vantagens dos sistemas de aproveitamente de energias renováveis não se ficam por aqui. Estes sistemas de produção de energia(disponiveis gratuitamente) são particularmente uteis em habitações isoladas cujo custo de fazer chegar a electricidade supera em muito o custo da tecnologia de energias renováveis locais.
Por outro lado, para "alimentarmos" a nossa casa podemos utilizar paineis foto voltaicos e/ou micro-éolicas (aerogeradores) que tem, obviamente, um impacto muito menor no meio ambiente do que as grandes torres éolicas ou parques de paineis foto-voltaicos! As micro-turbinas são muito menos visiveis que as grandes torres éolicas e os paineis solares então ainda menos! Por fim, existe ainda mais uma vantagem, que é o facto de não serem necessárias infra-estruturas extras como estradas, postes de alta-tensão ou caixas de transformação para ligar à Rede Electrica Nacional (REN)!
Para garantir a autonomia da nossa casa ao longo do ano é importante recorrermos a mais do que uma energia renovável simultaneamente (éolica,fotovoltaica ou micro-hidrica). Se assim fizermos, serão raras as vezes que necessitaremos de recorrer à REN. Alternativamente, podemos até optar, de inicio, por utilizar a energia renovável só para a iluminação e desta forma avaliarmos a viabilidade do sistema com um investimento inicial muito inferior.
Posto isto, creio que não temos grandes razões para não aderir à produção local de energia de fontes enováveis. Talvez o problema seja a tal "inercia", essa força misteriosa do universo que e que não nos deixa agir mas que de facto ninguem sabe o que é ...mas lá que existe,existe! Pode ser tambem falta de confiança que as pessoas ainda tem nestas fontes de energia alternativas e aí existe alguma culpa por parte dos governantes que não promovem devidamente o recurso a elas.
Vou dar aqui o meu pequeno contributo para tentar resolver este ultimo problema. Se por acaso tiver ficado um pouco mais curioso ou se pretender de facto recorrer a sistemas alternativos de produção de energia local sugiro a consulta das seguintes páginas:
Energia Eólica
Instalação de Micro-Eólicas
Portal das Energias Renováveis(muita informação, completo!!)
Vamos lá então começar a instalar paineis solares e micro-eolicas por esses telhados fora!
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
Este post não é só sobre a Serra

Mas, caramba, aprendi de uma nova maneira coisas que já sabia! Este livro e este filme (e estas conferências, imagino) são terrivelmente eficazes a passar a mensagem e por isso acho que são coisas boas.
É verdade que Al Gore é, ao mesmo tempo, muito irritante. Durante os dez anos em que realmente pode mudar alguma coisa, as emissões de CO2 americanas aumentaram muito; parece crer (pelo que aparece no final do vídeo numa série de sugestões sobre "what can you do to help?") que os biocombustíveis são uma coisa boa quando, de facto, apenas servirão para reduzir a produção de alimentos, fazendo aumentar o seu preço (para que os biocombustíveis possam desempenhar um papel relevante a área de terreno agrícola destinada à sua produção tem que se tornar comparável à que é usada na produção de alimentos); aceita dar conferências (como a de Lisboa) destinadas apenas a VIPs; organiza um mega evento (que produziria sempre mega-emissões de gases de efeito de estufa) tipo live-aid para o clima, com concertos em simultâneo na Europa, na América e (sente-se caro leitor) na Antártica (imagino que não se conseguisse lembrar de nada com maior impacto); podia acrescentar aqui uma longa lista de etc's, mas sugiro antes uma consulta ao excelente blog Ondas e às referências que lá se encontram.
Mas enfim, assim como não faz sentido diabolizar o mensageiro das notícias que não nos agradam, também não devemos divinizar os que trabalham (e, neste caso, muitíssimo bem) para divulgar as mensagens que achamos importantes. Uma Verdade Inconveniente é uma forte contribuição para o aparecimento de uma consciência global do problema das alterações climáticas, se bem que há várias verdades inconvenientes acerca de Al Gore, que diminuem a simpatia que, de outro modo, sentiria por ele num plano pessoal.
Já agora que vem a propósito, quero recomendar dois livros que, esses sim, me ensinaram (e muito) sobre o problema do aquecimento global: "Os Senhores do Tempo" por Tim Flanery (Editorial Presença, 2006) e "Heat - How to stop the planet burning", por George Monbiot (não editado em Portugal).
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
Este artigo também é sobre a Serra da Estrela

Uma plataforma francesa (l'alliance pour la planète) teve a ideia de marcar o dia de hoje com um apagão à escala mundial, entre as 19:55 e as 20:00 (hora centro-europeia, ou seja, entre as 18:55 e as 19:00 em Portugal Continental e Madeira, 17:55 e 18:00 nos Açores). Não se trata de poupar cinco minutos de electricidade, mas de dar mais visibilidade ao problema das alterações climáticas e de mostrar aos responsáveis políticos que queremos que se passe à acção. E a acção passa por poupar energia.
Hoje às 18:55, vou ao quadro e desligo o geral.
Se precisar de acertar o relógio, pode fazê-lo aqui.
terça-feira, janeiro 16, 2007
Suíça!
"No Business in Snow Business for Low Swiss Resorts"
O que vale é que as preocupações com as alterações climáticas e com o que elas representam para as estâncias de esqui não nos dizem respeito. Senão, como se justificariam os apoios do programa (público) PITER a investimentos na estância Vodafone, na telecabine Penhas da Saúde - Torre e na "mini-cidade" de montanha das Penhas da Saúde, planeada como centro do aprés-ski na Serra por Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo) e Carlos Pinto (presidente da câmara da Covilhã)?
domingo, janeiro 14, 2007
Já lá vão 45 dias...
P.S. No público de sexta feira dia 12 de Janeiro, na página 23, aparece um artigo sobre as consequências do aquecimento nas estâncias de esqui da Europa e da América do Norte. Dizem-nos nesse artigo que "a estação de Blue Mountain, a maior a norte de Toronto, já encerrou duas vezes esta temporada." Coitados deles, ainda bem que não estamos na sua desesperada situação!
quarta-feira, janeiro 03, 2007
A perspectiva correcta das coisas
Pode não nevar mais na Serra da Estrela este ano. Isso não prova nem desmente nada. Pode começar a nevar amanhã e não parar até Abril. Isso não prova nem desmente nada.
Mas é um facto que já não neva na Serra como nevava há dez anos. E é um facto que não nevava há dez anos como nevava há vinte. É um facto que se acumulam os sinais das alterações climáticas. Eles não são muito claros num dado ano mas notam-se bem quando se consideram décadas.
Neste ano ou no próximo, será possível a prática do esqui na Serra? Não sei, mas diria que sim. E daqui a dez anos? Suspeito que apenas em alguns dias de alguns Invernos...
sábado, dezembro 30, 2006
Isto parece-lhe normal?
Depois de, há duas semanas apenas, ter dado voz ao administrador e proprietário da Turistrela (classificada como "empresa de uma família da Covilhã") que defendia investimentos que permitam aumentar a frequência da estância de esqui para podermos recuperar dos "20 anos de atraso em relação às estâncias espanholas(1)", a Visão publica agora a opinião (da OCDE) de que muitas estâncias dos Alpes não têm viabilidade a médio prazo. Sobre a prática do esqui na Estrela, na estância da tal empresa familiar, nem uma palavra. Isto parece-lhe normal, caro leitor da Visão(2)?
Neste artigo da Visão apresentam-se medidas que foram sugeridas para viabilizar o negócio das estâncias dos Alpes: aumentar a altitude das áreas esquiáveis; recorrer (ainda mais) à produção artificial de neve; mudar o modelo, isto é, mudar a oferta, do esqui para outros segmentos. Independentemente das suas vantagens e desvantagens ou dos seus impactos, se considerarmos a aplicabilidade destas medidas no contexto da nossa Serra da Estrela, constatamos que aumentar a altitude da estância é impossível. Já foi aumentada o que podia ser, quando, há uns quinze anos, a estância foi transferida das imediações do Centro de Limpeza de Neve para a Torre. Aliás, note-se que alguns planos de expansão da estância visam a ocupação de áreas de ainda menor altitude (Covão do Ferro, por exemplo). Aumentar mais a produção de neve artificial talvez seja possível, mas a custos cada vez maiores (será necessário bombear água de altitudes mais baixas) e a viabilidade prática desta solução deixa muito a desejar na Serra da Estrela, como se tem visto pela área que a estância de esqui tem conseguido (e diga-se: apenas graças a transportes de neve com buldozers) manter aberta ao público, mesmo nos recentes dias de frio intenso. Mudar o modelo de negócios talvez fosse possível, mas receio que seria necessário mudar os protagonistas, que os que temos (Região de Turismo, Turistrela, autarcas) mantém o discurso e as apostas de há cinquenta anos(3). A diferença principal entre o agora e o então é que agora parece haver mais força para concretizar os projectos ou, pelo menos, para conseguir verbas públicas para os financiar...
Mas o fundamental deste post é a seguinte constatação: nos países da Europa onde tradicionalmente há reais condições para a prática do esqui e onde o turismo de neve se tornou uma componente importante da economia, gerando vários milhares de empregos, tenta-se naturalmente achar soluções que viabilizem as grandes estâncias existentes, tentando evitar as consequências sociais dos seus encerramentos e encarando-se com imensa preocupação as próximas décadas. Em Portugal, em contrapartida, o governo acaba de aprovar investimentos de €32.850.000,00, que serão aplicados, directa ou indirectamente, no produto neve(4), para reforçar a atractividade de uma micro-estância sem expressão nenhuma em termos da economia nacional e com pouco peso na economia regional (note que são os próprios proprietários da estância que afirmam que apenas 5% dos turistas a procuram, como se pode ler na Visão de há duas semanas). Isto, numa montanha meridional, atlântica, de baixa altitude, onde pouco neva. Isto parece-lhe normal, caro contribuinte?
(1) Referi-me em tempos a estes ridículos argumentos da concorrência com a estância de Béjar, no post A lógica das avalanches.
(2) Note-se que eu sou um leitor semanal da Visão e que a considero, no panorama nacional, uma revista excelente.
(3) Até o projecto do teleférico Piornos - Torre recuperaram, chamando-lhe agora telecabine Penhas da Saúde - Torre!
(4) Obtive estes números no Gazeta do Interior de 27 de Dezembro de 2006, na página 14. São o total de investimentos anunciados para os projectos da telecabine Penhas da Saúde - Torre, das infra-estruturas da Estância de Montanha das Penhas da Saúde (a mini-cidade de Carlos Pinto) e da estância de esqui propriamente dita. Aliás, o montante previsto para esta última é anedoticamente preciso: €4.013.638,04. Nem mais, nem menos!
quarta-feira, dezembro 20, 2006
E ainda mais!
Artur Costa Pais e Jorge Patrão fingem acreditar que isso não se verificará na Serra da Estrela, ou que se poderá, quando o problema se colocar (e fingem acreditar que isso será daqui a muuuuito tempo), fabricar neve quente... Sintomaticamente, não vejo mais quem tenha esta atitude. Mas eles "andem" aí... Querem uma aposta que o governo se prepara para enterrar milhões de euros do PENT no projecto de ampliação da estância?
Mmmm, onde é que eu já vi isto? Ah, já sei! Foi o mesmo com a construção do teleférico Piornos-Torre. Gastou-se muito mais a desmontar aquela porcaria do que a construí-la. Ambas as actividades foram pagas pelo Orçamento de Estado. (Mas agora que finalmente foi quase tudo removido [falta só demolir o mamarracho dos Piornos] eis que Jorge Patrão e Costa Pais relançam de novo o projecto!)
terça-feira, dezembro 19, 2006
Relatório OCDE vs Costa Pais
sábado, dezembro 16, 2006
Leia-se o Público...
- O INVERNO TARDA A CHEGAR À EUROPA
- As estâncias de esqui não têm neve. Cidades habitualmente geladas assistem agora ao florescimento das árvores. Ursos polares invadem povoamentos em busca de alimento... humano. No Inverno, estranhamente, a Europa não treme de frio. Há pelo menos 500 anos que não se testemunhava uma coisa assim
- Portugal com temperaturas normais para a época
- Hemisfério Norte aquece duas vezes mais que o Sul
- 2006 será o sexto ano mais quente de sempre
- Inglaterra bate recorde de calor de 347 anos
- Este Outono foi o mais quente do último meio milénio
- O outono na Europa terá sido o mais quente dos últimos 500 anos, acentuando a tendência para a subida das temperaturas no continente. E, no caso de Portugal, parece prenunciar um Inverno suave.
- Nível do mar pode subir 1,4m até 2100
Sensacionalismo? Sem dúvida. Apenas sensacionalismo? Sem dúvida que não, mas nada que diga respeito à Serra da Estrela, onde as "alterações climatéricas não serão assim tão graves, tendo em conta que o ano passado foi um dos em que nevou mais, ao ponto de termos produzido neve só quatro dias"
quinta-feira, dezembro 14, 2006
terça-feira, dezembro 12, 2006
Ena! Temos que ir avisar o IPCC!
As alterações climatéricas não serão assim tão graves, tendo em conta que o ano passado foi um dos em que nevou mais, ao ponto de termos produzido neve só quatro dias.Ufa, que alívio!
Declarações recolhidas no Público de hoje. Já agora, é verdade que o ano passado foi "dos em que nevou mais" desde que se instalaram os canhões de neve, ou seja, nos últimos dois anos. Nevou mais, de facto, no ano passado do que no anterior. Já agora, leia-se isto, isto, isto ou o site Keep Winter Cool (da National Ski Areas Organization). Já agora ainda, IPCC é a sigla inglesa do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, das Nações Unidas.
segunda-feira, dezembro 11, 2006
As Montanhas são "refúgios" das Alterações Climáticas

sábado, dezembro 09, 2006
Uma verdade evidente...
Estes fenómenos, tomados isoladamente, não significam nada. A verdade a que me refiro reside na frequência crescente com que se vão repetindo. Assim, tal como a onda de calor de 2003 não demonstrou, só por si, a realidade do aquecimento global, também o nevãozito deste fim de semana não demonstra, só por si, que este aquecimento não se está a verificar. Infelizmente.
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Uma verdade evidente
O que vale é que isso é lá longe, no Alentejo. Senão, talvez pusesse em causa o projecto de transformar a Serra da Estrela numa estância turística de montanha "que possa concorrer em termos de turismo de montanha com outras da Europa, nas cidades dos maciços mais conhecidos, como os Alpes ou os Pirinéus", ancorada no produto neve, com a ampliação da estância de esqui, com a construção de uma mini-cidade nas Penhas da Saúde, entre muitas outras "maravilhas".