Criámos instituições, regras, procedimentos, tribunais, autoridades e tudo o resto para garantir que as diferenças de opinião e os conflitos de interesses — Que só não existem em colónias de insectos (e, mesmo aí, não sei...) — possam ser discutidos numa base tanto quanto possível racional, pesando argumentos, considerando o interesse público (tal como ele é avaliado pelos diferentes actores), etc. O oposto desta formalização dos debates e das decisões é a aplicação da lei do mais forte, da lei do dono dos jagunços, a ordem da desordem. Para que a ordem prevaleça, é necessário que os titulares dos órgãos administrativos, judiciais, policiais, etc garantam pessoalmente o respeito pelas normas legais. A democracia não é a ditadura da maioria, é também o primado da lei.
Nessa medida, e como diz o Pedro Teixeira dos Santos do blog A Sombra Verde, não se espera de um autarca (por exemplo) que necessariamente concorde com todas as leis e decisões dos tribunais, mas sim que as cumpra e as faça cumprir.
Vem este apontamento a propósito de algo que aconteceu há dias em Aldeia Viçosa, no distrito da Guarda, de que podemos ler detalhes nos blogs Trepadeira (aqui, aqui, aqui e aqui) e Café Mondego (aqui, aqui, aqui, aqui, aqui). Uma história a todos os títulos lamentável: o presidente da junta de freguesia de Aldeia Viçosa, descontente (com ou sem razão, não vem agora ao caso) com a actuação de um habitante da sua freguesia (o Mário, do blog Trepadeira), boicotou um concerto de música clássica que uma associação à qual ele pertence organizou na própria freguesia, cercando (com a ajuda de alguns apoiantes) o espaço onde esse concerto teve lugar, fazendo barulho com vuvuzelas (cada dia que passa gosto menos de futebol e de futebolices!) e intimando com a sua atitude e vozearia os que pretendiam assistir ao concerto.
Não contente com esta actuação a todos os títulos digna de um arruaceiro (pois que outras palavras há para descrever quem faz o que o ele fez?), propôs numa reunião da Assembleia Municipal da Guarda um corte no orçamento do Teatro Municipal da Guarda. Porquê? Porque o Director do teatro (o Américo Rodrigues, do blog Café mondego) era um dos presentes no dito concerto e teve o "descaramento" de tentar chamar à razão o arruaceiro no local e criticou a arruaça no local seu blog.
Repito, uma história a todos os títulos lamentável. Mas os culpados, mais uma vez, somos todos, por escolhermos quem escolhemos, para estes como para outros cargos. Repetindo o que costumo dizer sobre a serra, agora num contexto mais geral, estamos no rumo certo, estamos de parabéns.
4 comentários:
Começo por deixar este link: http://tiagussbtt.blogspot.com/2009/06/o-alcatrao-e-os-broncos-de-esplanada.html
Ha uma parte onde digo "Mas mal entrámos no recinto da praia fluvial, eis que surge um bronco de esplanada que roncou em voz alta para toda a gente ouvir que ali não era sitio para bicicletas. Ficamos nós e quase toda a gente de boca aberta com tal atitude pré-histórica daquele individuo da camisa as riscas e olhos esbugalhados. Enfim .... e como tascos há muitos, subimos à Soida e rumámos a Videmonte onde sempre fomos bem tratados."
Mais tarde soube quem era o bronco. Fácil de adivinhar, não?
Meu caro
Deixou-me sem palavras.Abri várias vezes a caixa de comentários e,elas as palavras,não apareceram.
Escolhemos o caminho das pedras e,"pedras no caminho,guardo todas...",não para construir um castelo mas,para partir os espelhos insonorizados dos gabinetes do poder,onde,assim essa gente,só se vêm e ouvem a eles próprios.
"Perdida a esperança,já rota a armadura...",são os amigos que nos ajudam e incentivam a continuar.
E temos de continuar porque,aqui em causa,não estão pessoas ou projectos,estão em causa a cultura,a liberdade e a democracia.
Um cordial abraço,
mário
Jagunços! E está tudo dito!
Vou destacar este post no Último Quilómetro.
é so tacho !!!!!!!!!!!
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