"Pensar como uma montanha", de Aldo Leopold, é um livro de que gostei muito. Escrito por um dos pioneiros do pensamento ecologista no final dos anos quarenta do século passado, só recentemente foi traduzido para português. Encontrei neste livro, mais do que outra coisa, um enorme gosto pela natureza, pelos seus detalhes, pelo seu funcionamento, que o autor tenta transmitir a quem o lê. No meu caso particular, foi muito bem sucedido.
Li o livrinho com enorme prazer, rindo-me para dentro (e às vezes para fora) em diversas passagens. Algumas impressionaram-me tanto que talvez as vá referindo aqui durante algum tempo(1). Logo se vê. Tinha seleccionado mentalmente uma passagem sobre o medo aos espaços selvagens (e que pobre que é a experiência desses espaços se dela eliminarmos o medo), mas enquanto a procurava os meus olhos chocaram com outra, que me parece hoje mais apropriada:
É como se, em resumo, os estádios rudimentares do lazer ao ar livre consumissem a sua base de recursos; os estádios mais elevados, pelo menos até certo ponto, criam as suas próprias satisfações sem desgaste ou com desgaste mínimo da terra ou da vida selvagem. É a expansão do transporte sem o correspondente crescimento da percepção que nos ameaçam com a bancarrota qualitativa do processo recreativo. O desenvolvimento do lazer não está em construir estradas para chegar a regiões que são já dignas de amor, mas em construir receptividade na mente humana ainda desprovida de amor.(p. 168)
O que me parece que isto quer dizer, autarcas e demais responsáveis da nossa região, é que o desenvolvimento do turismo não vem com mais estradas pela serra, vem sim com mais conhecimento da serra e dos seus valores ambientais, paisagísticos, sociais, culturais, históricos, etc. Que mais gente a conheça, que mais gente a saiba mostrar, que mais gente a queira ver. Tudo ao contrário do que, nas últimas dezenas de anos e ainda hoje em dia, têm defendido, proposto, exigido ao governo e implementado.
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